A esquerda brasileira precisa urgentemente recuperar seu compromisso com a soberania nacional e o desenvolvimento estratégico do país. Essa é a avaliação do economista Elias Jabbour, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em entrevista ao jornalista Leonardo Attuch, da TV 247. Para ele, a ausência de um projeto nacional claro ameaça a própria existência da esquerda no cenário político atual.
“Uma esquerda que não vê a soberania como a questão central do Brasil não tem razão de existir”, afirma Jabbour. Ele critica especialmente o papel de organizações não governamentais que, segundo ele, atuam com agendas contrárias ao interesse nacional. “O Brasil hoje enfrenta um problema de segurança nacional em razão do papel desempenhado pelas ONGs, que atuam contra o interesse nacional”, alerta.
Jabbour acredita que o país tem uma oportunidade histórica de exercer um papel central no século 21, mas isso exige clareza estratégica. “O Brasil precisa afirmar seu projeto nacional para assumir seu papel no mundo. A eleição e a reeleição do presidente Lula são fundamentais para isso. O cavalo encilhado está passando diante de nós”, diz, usando uma metáfora para se referir ao momento decisivo que o país atravessa.
O economista também projeta que a próxima Cúpula dos BRICS, marcada para os dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro, será um marco importante na construção de uma nova ordem mundial. “O Rio de Janeiro deve inclusive pleitear ser a sede mundial dos BRICS”, sugere. Em sua visão, o Brasil deve assumir uma política externa mais ativa, com foco em alianças estratégicas com países como China, Rússia e Índia. “Falamos muito pouco da Índia no Brasil – e a Índia hoje é uma economia hiper industrializada, a farmácia do mundo”, observa.
Jabbour aponta três grandes contradições do mundo atual: a busca por desenvolvimento, as mudanças climáticas e a paz mundial. Para enfrentá-las, ele defende o resgate de valores históricos da esquerda. “A defesa da paz mundial é uma bandeira dos comunistas desde 1848. Essa questão sempre foi central”, destaca.
Crítico da atuação da social-democracia europeia, o professor afirma que ela tem tido um papel reacionário no contexto internacional. “Não me surpreendo com os movimentos da social-democracia europeia, que tenta manter as guerras e frear mudanças profundas no sistema”, afirma.
Diante desse cenário, Jabbour conclama a esquerda brasileira a se reinventar com base em um projeto sólido de soberania nacional, planejamento de longo prazo e transformação estrutural. “A esquerda precisa de um projeto, precisa se reinventar em torno de um projeto de soberania e desenvolvimento”, finaliza.