China realiza avanço inédito com chip cerebral e acirra disputa tecnológica com os EUA

Implante testado em paciente tetraplégico é o menor e mais flexível do mundo; corrida por inovação cerebral ganha novo capítulo

(Foto: Reprodução / Aleksandra Sova / Shutterstock)

A China acaba de marcar seu nome em uma das áreas mais promissoras — e sensíveis — da fronteira tecnológica: os implantes cerebrais. Em março deste ano, pesquisadores chineses realizaram, com sucesso, o primeiro teste clínico em humanos de um chip cerebral desenvolvido no país, tornando a China a segunda nação do mundo a alcançar tal feito, atrás apenas dos Estados Unidos.

O procedimento foi conduzido pelo Centro de Excelência em Ciência do Cérebro e Tecnologia da Inteligência, com sede em Xangai. O paciente, que perdeu os quatro membros em um acidente há 13 anos, recebeu o implante conhecido como BCI (Interface Cérebro-Computador). O chip permite que comandos sejam enviados diretamente do cérebro para dispositivos eletrônicos — e os primeiros resultados já impressionam.

Segundo o jornal estatal Global Times, poucas semanas após a cirurgia, o paciente já era capaz de jogar games online apenas com o pensamento, usando um computador adaptado. O próximo passo será testar um braço robótico controlado pelo chip, abrindo caminho para movimentos físicos reais comandados pela mente.

Tecnologia de ponta, disputa acirrada

O implante chinês se destaca não só pelo sucesso clínico, mas também pelas especificações técnicas. Com apenas 26 milímetros de diâmetro e menos de 6 milímetros de espessura, ele é o menor e mais flexível já desenvolvido — superando em leveza e maleabilidade o chip da Neuralink, empresa de Elon Musk, que lidera os estudos semelhantes nos Estados Unidos.

Além disso, o chip chinês é 100 vezes mais flexível que o da Neuralink, o que pode representar uma vantagem crucial em termos de conforto, adaptação e integração com o tecido cerebral. Os pesquisadores chineses estimam que o BCI poderá obter aprovação para uso comercial no país até 2028.

China x EUA: o cérebro como nova fronteira geopolítica

Essa corrida por implantes cerebrais reflete uma disputa mais ampla entre China e Estados Unidos pelo domínio das tecnologias emergentes — como inteligência artificial, computação quântica e biotecnologia. Neste caso, a competição atinge um nível quase simbólico: controlar, literalmente, a interface entre mente e máquina.

Em 2023, os EUA se tornaram os primeiros a realizar implantes em humanos com sucesso por meio da Neuralink. Agora, a China responde com um avanço próprio, que reforça sua ambição de protagonismo em áreas de alta complexidade e inovação.

O que isso tem a ver com o Brasil?

Ainda que pareça um avanço distante da realidade brasileira, a entrada da China nessa corrida tecnológica tem implicações para países como o Brasil — que já coopera com o país asiático em setores como ciência, tecnologia e saúde.

Instituições brasileiras, como a Fiocruz e universidades federais, têm histórico de parcerias em pesquisa com centros chineses. E esse tipo de inovação pode abrir portas para novas formas de reabilitação, especialmente no sistema público de saúde. Além disso, com o avanço dos acordos bilaterais em tecnologia, o Brasil pode se tornar um campo de testes ou implementação para soluções derivadas dessas pesquisas.

Avanço com responsabilidade

Apesar do entusiasmo com os resultados, especialistas alertam para a necessidade de debates éticos. O uso de chips cerebrais levanta questões profundas sobre privacidade mental, autonomia do paciente e limites do controle tecnológico. A China, que busca consolidar uma imagem de potência científica responsável, terá que equilibrar inovação com regulamentação transparente.

Enquanto isso, o mundo observa. O cérebro humano, que por milênios foi símbolo de mistério e complexidade, se transforma agora em campo de disputa geopolítica — e a China parece decidida a não ficar para trás.

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