Tradição que perfuma a alma: mestre do incenso reinventa saberes ancestrais com criatividade e delicadeza

No interior da China, aromas da madeira de agar e pétalas de peônia se unem em peças artesanais que combinam bem-estar e herança cultural

(Foto: Reprodução / Heze)

No dia 15 de maio, uma espiral delicada de fumaça se elevava suavemente de um incensário no ateliê de Feng Xian, no distrito de Mudan, criando uma atmosfera de serenidade e contemplação. Em meio a prateleiras repletas de incensos em varetas, espirais e sachês aromáticos, chamavam a atenção também criações contemporâneas e originais: incensos sem pó adesivo, martelos aromáticos, brincos perfumados e até pentes medicinais embebidos em fragrâncias naturais.

Essas peças não são apenas belas — são o resultado de mais de 20 anos de dedicação de Feng, mestre artesão e herdeiro oficial da técnica tradicional de preparo de incensos combinados de Caozhou, considerada patrimônio cultural intangível no nível municipal.

Diante de um incensário, ele acende um de seus orgulhos: um “incenso de fluxo reverso” batizado de “A Harmonia da Peônia” — sua criação exclusiva, que mistura madeira de agar (aquilaria) com pétalas de peônia para produzir um aroma elegante, envolvente e profundamente calmante.

“Para criar um incenso à base de peônia, usamos pelo menos dois ingredientes naturais, mas algumas receitas exigem mais de cem”, conta Feng, enquanto folheia um caderno repleto de anotações, registros de centenas de experimentos. Suas combinações revelam cuidado extremo: casca de peônia com agarwood e sândalo, cravo-da-índia suavizado por artemísia… uma verdadeira alquimia de perfumes naturais.

Todos os anos, ele viaja por cidades como Pequim e Xangai para aprender com mestres do ofício, buscando integrar os fundamentos das técnicas ancestrais aos conceitos modernos de saúde e bem-estar. Para Feng, tradição e inovação não são opostos, mas caminhos que se complementam.

“Uma arte antiga não pode flutuar perdida no ar — ela precisa criar raízes na vida cotidiana das pessoas para continuar viva”, afirma, enquanto ajusta com precisão um delicado incenso em formato de flor de lótus.

Com mãos calejadas e olhar sereno, Feng Xian transforma ervas em poesia e fumaça em memória viva. Seu trabalho é mais do que ofício: é a expressão sensorial de um legado cultural que se reinventa, mantendo o passado aceso no presente.

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