A sumária demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, foi interpretada por integrantes das Forças Armadas como uma tentativa de Jair Bolsonaro enquadrar os militares. A pasta foi entregue ao general Walter Braga Netto, então chefe da Casa Civil e alinhado ao presidente. Surpreendidos, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica fizeram uma reunião na tarde de ontem. Segundo interlocutores militares, os três discutiram uma inédita renúncia coletiva.
Diante da insatisfação, Braga Netto tenta contornar a situação. Uma nova rodada de conversa está marcada para hoje de manhã. O comandante do Exército, Edson Pujol, que o presidente Jair Bolsonaro disse ontem nos bastidores que demitiria, e os comandante da Marinha, Ilques Barbosa Junior, e o da Aeronáutica, Antonio Carlos Moretti Bermudez, voltam a se reunir. Braga Netto deve participar também de uma conversa com os três.
Ao anunciar que deixaria o cargo, antes que Bolsonaro fizesse o anúncio, Azevedo e Silva disse que saiu “na certeza da missão cumprida”, sem explicar o motivo da demissão, mas ressaltando que preservou “as Forças Armadas como instituições de Estado”.
O tom do texto, segundo militares, expôs a pressão que o ministro vinha sofrendo de Bolsonaro. O presidente já vinha demostrando uma insatisfação com o Ministério da Defesa, pois quer das Forças Armadas um maior alinhamento ao governo.
A maior cobrança mirava o comandante do Exército, Edson Leal Pujol, que sempre tentou se distanciar dos vínculos com o governo. Em novembro do ano passado, com aumento das críticas ao então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, Pujol disse que “militares não querem fazer parte da política”, delimitando que o Exército é uma instituição de Estado e não de governo.