Relações com China terão impulso se Lula vencer eleição, diz Celso Amorim

As relações do Brasil com a China têm sido tempestuosas sob o governo do presidente Jair Bolsonaro e podem melhorar muito se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva for eleito em outubro, de acordo com o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, que comandou o Itamaraty no governo Lula.

Ao mesmo tempo, disse ele à Reuters, um eventual governo Lula não buscaria uma relação preferencial com a China em detrimento de seus bons laços com os Estados Unidos, a União Européia e os vizinhos latino-americanos.

Lula tem uma clara liderança sobre Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto para a eleição de outubro –embora nenhum dos dois tenha declarado formalmente sua candidatura– e os investidores estão ansiosos para entender o que um novo governo do PT pode significar para as relações com o maior parceiro comercial do Brasil.

Em uma entrevista na sexta-feira, Amorim disse que a política externa brasileira sob Lula seria “pragmática e não ideológica”.

“Não se pode deixar de reconhecer que a China é a economia que mais cresce e será a maior economia do mundo até o final da década. Nâo há como ignorar isso”, disse o ex-chanceler.

Durante a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro atacou a China, dizendo que ela estava “comprando o Brasil”, causando tensões com a potência asiática.

Desde então, o presidente diminuiu suas críticas, mas alguns de seus apoiadores de direita reclamam que ele está permitindo que a maior economia da América Latina se torne uma “colônia chinesa”, não proibindo a gigante chinesa de telecomunicações Huawei Technologies de fornecer equipamentos para redes 5G de telefonia móvel.

Segundo Amorim, o atrito com Pequim sob o governo Bolsonaro causou atrasos na obtenção de equipamentos de saúde e insumos farmacêuticos ativos para vacinas para combater a pandemia da Covid-19. A China disse na época que os atrasos se deveram à burocracia que seguia os regulamentos de exportação chineses.

O Brasil tem uma parceria estratégica com a China desde 1994, quando a Amorim serviu pela primeira vez como ministro.

Os laços econômicos e políticos do Brasil com a China decolaram sob Lula, cuja visita ao país em 2004 incluiu uma grande delegação de 450 representantes empresariais brasileiros. Amorim foi ministro das Relações Exteriores de Lula nos dois mandatos do petista, de 2003 a 2010, e também foi ministro da Defesa de 2011 a 2014, no governo Dilma Rousseff.

Hoje as possibilidades de cooperação são enormes, disse Amorim, já que a China se tornou uma das maiores fontes de investimento do mundo, e o Brasil é o principal destino dos investimentos chineses na América Latina.

Os Estados Unidos, particularmente durante o governo do ex-presidente norte-americano Donald Trump, tentaram convencer o Brasil a barrar o Huawei, o maior fabricante mundial de equipamentos de telecomunicações, do mercado de telefonia móvel 5G por razões de segurança, alegando que os equipamentos da empresa permitiriam a espionagem por parte do governo da China, comandado pelo Partido Comunista chinês.

Amorim disse que os países deveriam comprar o equipamento mais adequado e mais barato disponível para as empresas de telecomunicações, como o governo Bolsonaro finalmente fez no ano passado, cedendo à pressão do setor privado.

“Até o governo Bolsonaro, apesar de toda a ideologia antichinesa, não impediu e deixou livre, o que é a preferência das próprias empresas”, afirmou.

“O Brasil tem que encontrar um equilíbrio. Não tem que colocar todos os ovos em uma única cesta”, disse ele.

Perguntado se ele será novamente ministro das Relações Exteriores se Lula vencer a eleição, Amorim disse: “Vamos atravessar essa ponte quando chegarmos a ela.”

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