A desigualdade e o baixo crescimento econômico colocaram o Brasil e outros países da América Latina e do Caribe em uma “armadilha do desenvolvimento”, segundo um relatório divulgado nesta terça-feira (22) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
O documento, que analisa os níveis regionais de desenvolvimento humano, acende um alerta para o papel que a pandemia da Covid-19 pode tomar em retrocessos na região.
Segundo o programa da ONU, para sair desta “armadilha”, é preciso investir em melhores políticas sociais, aumentar os esforços para reduzir a concentração de renda e de poder e combater a violência.
Desigualdade de renda
O “Regional Human Development Report 2021” aponta que as crises – sanitária, econômica e social – da pandemia atingiram mais fortemente uma população que já era excluída.
O estudo destaca esforços de sindicatos na Argentina e Uruguai, e o aumento do salário mínimo no Brasil como propulsores regionais, mas que “apesar do progresso” a região é a segunda mais desigual do mundo – atrás apenas do continente africano
Gênero, trabalho e estudo
Além da renda familiar, o levantamento destaca outras formas de desigualdade ainda presentes na região – e que prejudicam o desenvolvimento da região.
A estrutura machista, que dificulta o acesso de mulheres ao mercado de trabalho – ou que exigem uma dupla jornada da trabalhadora, também em casa – é apontada como uma das principais dificuldades da região.
A discriminação contra a população LGBT+ também faz com que muitos abandonem seus estudos precocemente isso quando não se tornam vítimas de violência. Minorias étnicas também são constantemente excluídas e têm acesso dificultado a serviços básicos como saúde e educação.
“Sociedades desiguais desperdiçam o talento de uma porção relevante da população. Se exclui uma parcela do capital humano para o mercado de trabalho, se condenam alguns grupos a uma menor acumulação de capital”, escrevem os pesquisadores.
Concentração de renda
Entre os países latino-americanos, Chile, México e Brasil têm a maior concentração de renda: os 10% mais ricos de cada país são responsáveis por cerca de 57% da renda nacional.
A concentração de renda nesses países “é persistentemente alta” e tem aumentado ao longo dos anos, registra o documento da ONU.
Por outro lado, países como Uruguai, Argentina e Equador mostraram os níveis mais baixos de concentração de renda na região entre os anos 2000 e 2019 (embora ainda se mantenham altos em termos absolutos).
Desempenho econômico
Ao avaliar o desempenho econômico dos países da América Latina e Caribe, o relatório aponta para a alta volatilidade e uma “performance medíocre”.
O Pnud também afirma que o “fator total de produtividade” (TFP, da sigla em inglês) em países da região é próximo do zero – e em alguns casos até negativo –, o que afeta o crescimento a longo prazo.