Oficiais do Ministério de Segurança Pública da China esclareceram, nesta quarta-feira (12), os pontos das acusações do governo dos Estados Unidos de que Pequim estaria facilitando o tráfico de fentanil para a América do Norte. Durante uma reunião em Pequim, os chineses negaram veementemente qualquer envolvimento na produção irregular ou no contrabando da substância e condenaram as recentes tarifas comerciais impostas por Washington sob essa justificativa.
As acusações norte-americanas vêm em um momento de crescente tensão diplomática entre os dois países. Desde a posse do presidente Donald Trump em janeiro, os EUA anunciaram duas rodadas de tarifas sobre produtos chineses, alegando que Pequim não estaria cooperando suficientemente para conter a circulação do opioide sintético.
MEDIDAS DE CONTROLE – De acordo com os oficiais do Ministério de Segurança Pública, a China tem implementado um dos regimes mais severos do mundo no combate ao fentanil. Em 2019, a pedido dos próprios EUA, o gigante asiático foi o primeiro país a classificar substâncias derivadas do opioide. Desde então, o governo chinês afirma não ter detectado casos de contrabando ilegal dessas substâncias para fora de seu território.
“A China exerce um controle estrito sobre a fabricação, venda, transporte, importação e exportação dessas substâncias. Criamos uma rede de laboratórios altamente especializados para fiscalização e utilizamos tecnologia avançada, como ressonância magnética nuclear, para detectar produção ilegal”, afirmou um dos oficiais presentes no encontro.
Um “Livro Branco sobre o Fentanil” publicado pelo governo chinês no início deste mês detalha as medidas adotadas pelo país. Segundo o documento, a China criou um sistema de laboratórios “1+5+N” para identificação de substâncias suspeitas e implementou um sistema de rastreamento digital para fiscalizar toda a cadeia de produção e distribuição de precursores de fentanil. Em 2023, o país exportou 9,766 kg de medicamentos relacionados ao fentanil para países da Ásia, Europa e América Latina, mas nenhum para a América do Norte.

“Com o Laboratório Nacional de Narcóticos da China desempenhando um papel central (1), cinco filiais regionais atuando como pilares (5) e inúmeros laboratórios provinciais e municipais como nós estratégicos (N), formou-se uma rede laboratorial ‘1+5+N’ para narcóticos, proporcionando suporte técnico abrangente para a detecção rápida, identificação precisa, monitoramento em larga escala e controle científico das substâncias relacionadas ao fentanil”, diz trecho do documento.
Além disso, desde a década passada, a China iniciou a participação em iniciativas internacionais de combate ao tráfico de drogas. O documento também destaca que o país bloqueou mais de 140.000 anúncios ilegais de venda de fentanil na internet e desativou 14 plataformas online envolvidas em atividades suspeitas.
O livro branco também aponta que a China mantém um controle rigoroso sobre os precursores químicos do fentanil, incluindo 4-ANPP, NPP, 4-AP, 1-boc-4-AP e norfentanil. Esses compostos estão sujeitos a um sistema de verificação internacional rigoroso, e desde a implementação dessas medidas, não houve registro de empresas chinesas solicitando exportação dessas substâncias.
Além disso, a China afirma ter estabelecido um sistema de monitoramento de águas residuais para detectar o consumo de fentanil e outras drogas em diferentes regiões do país. Esse método permite identificar padrões de abuso de substâncias e antecipar medidas de controle mais eficazes.
TARIFAS COMO PRETEXTO PARA GUERRA COMERCIAL – Apesar da relatada colaboração, Pequim criticou duramente a decisão de Washington de impor tarifas comerciais com base na questão do fentanil. “Os EUA consomem 80% dos opioides do mundo, apesar de representarem apenas 5% da população global. A crise se origina dentro dos EUA, e não na China”, afirmaram as autoridades chinesas.
Na visão de Pequim, as sanções comerciais são um método de pressão política, e não uma solução para o problema. “Se os EUA realmente quiserem resolver a questão, podemos cooperar. Mas se for apenas um pretexto para uma guerra comercial, será uma outra história”, alertaram os chineses.
As autoridades chinesas reafirmaram o compromisso do país com a governança global sobre drogas e a necessidade de uma abordagem cooperativa entre as nações. “Apontar dedos e culpar outros países não é o caminho. Somente com respeito mútuo e cooperação igualitária poderemos avançar nessa questão. Se os EUA realmente se importam com o bem-estar de sua própria população, deveriam voltar ao caminho correto para solucionar o problema”, concluíram.