Sob forte protesto da China e de cidadãos de Taiwan, a aviação militar dos EUA SPAR19, que estaria levando Nancy Pelosi, desembarcou em Taipei por volta das 22:45 (horário local) desta terça, 2 de agosto. O voo foi escoltado por caças de combate da República da China (Taiwan).
Pelosi foi recebida pela chefe do governo rebelde da República da China (Taiwan), Tsai Ing-wen no aeroporto e base militar Songshan de Taipei.
Em sua conta do Twitter, Pelosi disse que sua visita não contradiz os entendimentos entre China e EUA. Em acordos anteriores, os EUA já reafirmaram o apoio à política de Uma Só China, a qual reconhece a soberania chinesa sobre Taiwan.
O cenário na região é o mais tenso dos últimos anos. A mídia japonesa NHK relatou que um grande número de caças de combate saíram das bases americanas do Japão rumando Taiwan.
Também foi relatado um número não confirmado de caças de combate chineses SU-35 cruzando o Estreito de Taiwan, cujo espaço aéreo foi fechado pelo Exército Popular de Libertação (China) para voos civis.
A China havia avisado inúmeras vezes que a visita de Nancy Pelosi significaria ultrapassar a linha vermelha, e sirenes de ataque aéreo foram relatadas em províncias do Sul da China.
Entenda o caso:
Taiwan é governado pelo antigo regime chinês da República da China (ROC na sigla em inglês). Em 1949, quando Mao Zedong anunciou a fundação da República Popular da China (PRC na sigla em inglês) em consequência da vitória comunista na Guerra Civil, os partidários do derrotado Jiang Jieshi (Chiang Kai-shek) se isolaram na província de Taiwan. A partir de 1971, a ONU passou a reconhecer o governo da PRC como o único legítimo de toda China, e o regime da ROC como um regime rebelde.
Segundo os acordos estabelecidos entre China e EUA, oficialmente os EUA concordam com a política chinesa de Uma Só China, reconhecendo a soberania chinesa sobre Taiwan. Mas no bojo de sua política dependente da guerra, os americanos são os principais financiadores do governo rebelde de Taiwan, armando e treinando as tropas da província.
Em março deste ano, em uma tentativa de esfriar as tensões, os presidentes da China e dos EUA, Xi Jinping e Joe Biden, realizaram uma conversa telefônica na qual Biden reafirmou o compromisso americano com a política de Uma Só China e disse não apoiar a ‘independência de Taiwan’. Essas palavras, no entanto, entram em contradição com a prática dúbia de Biden sobre a questão, que afirmou em maio que estaria disposto a usar a força para defender Taiwan de uma possível ‘agressão chinesa’.
A conversa de Biden e Xi no telefone ocorreu semanas antes de uma visita bipartidária de legisladores estadunidenses a Taiwan, que voltou a agravar as relações entre os dois países. Na ocasião, uma visita de Pelosi começou a ser anunciada após a declaração do senador democrata Bob Menendez de ‘abandonar Taiwan seria abandonar a democracia e a liberdade’.
No último mês de julho, Biden e Xi voltaram a conversar no telefone, seguindo o mesmo padrão duplo por parte do presidente estadunidense.
A tensão envolve outros países da Ásia-Pacífico, como Austrália e Japão. Austrália compõe a aliança militar AUKUS, junto com EUA e Reino Unido, e tem se tornado o maior parceiro militar do Japão depois dos EUA.
O Japão, por sua vez, está em uma escalada militarista que sem precedentes no pós-segunda guerra. Em junho deste ano, o primeiro-ministro Fumio Kishida anunciou que o orçamento militar será fixado em 2% do PIB, o que fará saltar da oitava para a terceira posição entre os maiores gastos militares do planeta.
Com o assassinato de Shinzo Abe e a conquista de ampla maioria por parte dos aliados do partido de Kishida em julho de 2022, especula-se que muito em breve o Japão irá remover o status pacifista da sua constituição. A mudança constitucional é almejada há décadas por membros da seita restauracionista imperial, Nippon Kaigi, da qual proeminentes figuras da política japonesa fazem parte, como Shinzo Abe e Fumio Kishida.