Trump defende retorno da Rússia ao G7 e sugere entrada da China no grupo

Em meio a tensões globais, presidente norte-americano volta a agitar o debate geopolítico com proposta de inclusão da China no bloco das economias mais industrializadas

(Foto: Reprodução / Daniel Torok / Casa Branca / Flickr)

Durante uma reunião bilateral com o ex-presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, Donald Trump reacendeu o debate sobre a composição do G7 — grupo que reúne as principais economias industrializadas do Ocidente. Para o ex-presidente dos Estados Unidos, a exclusão da Rússia do grupo, em 2014, foi um “erro”, e a China, apesar de nunca ter integrado formalmente o bloco, deveria ser considerada como um membro potencial.

As declarações foram dadas nesta segunda-feira (16), durante os encontros paralelos à cúpula do G7, realizada nas Montanhas Rochosas canadenses. As reuniões, marcadas por clima reservado, ocorrem em um momento delicado, com o prolongamento do conflito no leste europeu, a instabilidade no Oriente Médio e incertezas econômicas globais.

Ao dizer que está “aberto” à entrada da China no G7, Trump contrariou o princípio fundacional do grupo, formado na década de 1970 como um fórum exclusivo para potências ocidentais alinhadas politicamente e economicamente. A proposta não apenas rompe com essa tradição, como sugere uma tentativa de realinhar a geopolítica internacional em meio à ascensão inegável da China como potência global.

A China e os blocos multilaterais

Apesar de não fazer parte do G7, a China é membro ativo do G20 — grupo mais amplo e diverso, que inclui também o Brasil e outras economias emergentes. A ideia de inserir a China no G7 esbarra em questões geoestratégicas e ideológicas, mas ao mesmo tempo reflete uma realidade incontornável: o papel central de Pequim na economia mundial, especialmente em áreas como tecnologia, comércio e transição energética.

Para analistas, Trump pode estar tentando sinalizar pragmatismo diante do novo equilíbrio global de forças, ainda que sua retórica costumeira siga sendo protecionista. Durante a mesma conversa com Carney, voltou a se definir como uma “pessoa das tarifas”, lembrando que prefere medidas unilaterais a acordos multilaterais.

Impactos para o Brasil

Caso uma reconfiguração do G7 venha a ocorrer no futuro — com ou sem a China —, o Brasil deve estar atento. A eventual presença chinesa em um grupo tão influente fortaleceria o papel dos países emergentes nas negociações globais. Ao mesmo tempo, reacenderia o debate sobre a legitimidade de fóruns como o G7 frente a alternativas mais representativas como o G20 e os BRICS, dos quais o Brasil faz parte.

Vale lembrar que o Brasil tem na China seu principal parceiro comercial desde 2009. Uma maior projeção internacional chinesa — especialmente em grupos tradicionalmente dominados por países ocidentais — pode abrir novas frentes de diálogo político e econômico que favoreçam também os interesses brasileiros.

Um mundo multipolar em construção

A fala de Trump, embora polêmica, joga luz sobre um tema incontornável: a estrutura de governança global precisa se atualizar para refletir o novo equilíbrio de poder no século XXI. A China, com protagonismo crescente, e o Brasil, como um ator-chave do Sul Global, têm papel estratégico nesse processo.

Enquanto isso, o G7 segue em compasso de espera, buscando encontrar respostas para uma ordem internacional em transformação. E cada nova proposta — mesmo as mais controversas — revela que as potências estão, ao menos, começando a reconhecer que o mundo já não é mais o mesmo.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui