Pequim responde a sinal da Casa Branca de não interferir na eleição da Taiwan

Em Washington, Antony Blinken se encontra com enviado da China; potência asiática reitera que "Taiwan é parte da China e de que existe apenas uma China no mundo"

(Foto: Fotomontagem /Wikimedia Commons)

Na véspera das eleições presidenciais de Taiwan, o Ministério das Relações Exteriores da China declara que é um assunto interno do país e que o resultado não alterará o fato de que “Taiwan é parte da China e de que existe apenas uma China no mundo”.

O Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca realizou uma teleconferência na quinta-feira (110 sobre as eleições em Taiwan. Um funcionário anônimo disse que os EUA estão comprometidos com a política de Uma Só China, não apoiam a “independência de Taiwan” e apoiam o diálogo através do Estreito.

O responsável acrescentou que os EUA não tomam posição sobre a resolução final das diferenças através do Estreito, desde que sejam resolvidas pacificamente.

Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, comentou que Pequim está ciente das observações do funcionário da Casa Branca.

“O princípio de Uma Só China é um consenso internacional prevalecente e a base política da relação China-EUA. A ‘independência de Taiwan’ é a maior ameaça à paz e estabilidade através do Estreito e está fadada ao fracasso”.

Mao disse ainda que os líderes dos EUA têm dito repetidamente que estão comprometidos com a política de Uma Só China, não apoiam a “independência de Taiwan”, não apoiam “duas Chinas” ou “uma China, um Taiwan”, e não procuram usar a questão de Taiwan como uma ferramenta para conter a China.

“Esperamos que os EUA honrem estes compromissos, tratem as questões relacionadas com Taiwan de forma prudente e adequada, interrompam as interações oficiais com Taiwan, parem de enviar sinais errados às forças separatistas de “independência de Taiwan” e evitem interferir nas eleições da região de Taiwan de qualquer forma. Se os EUA realmente esperam salvaguardar a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan, precisam de se opor explicitamente à “independência de Taiwan” e apoiar a reunificação pacífica da China.

A administração Biden planeja enviar uma delegação para Taiwan após as eleições regionais, aumentando as tensões com a China e na contramão dessa mensagem da Casa Branca e anônima.

Blinken recebe enviado chinês

Nesta sexta-feira (12), Antony Blinken recebe enviado de Pequim Liu Jianchao, do Partido Comunista da China (PCCh), em Washington, um dia antes das eleições em Taiwan, enquanto os Estados Unidos continuam a alertar a China contra o uso das eleições como pretexto para instabilidade.

A comunicação entre as duas maiores economias do mundo continuará após as eleições presidenciais e legislativas de Taiwan no sábado, já que altos funcionários dos Estados Unidos e da China estão programados para participar do Fórum Econômico Mundial na próxima semana em Davos, Suíça.

Nesta  sexta-feira, Blinken terá conversações no Departamento de Estado dos EUA com Liu, que chefia o departamento internacional do PCCh, responsável por manter relações com partidos políticos estrangeiros.

Liu é um membro de confiança dos círculos internos de conselheiros do presidente chinês Xi Jinping. É o que diz um ex-analista-chefe da CIA para a China, agora professor na Universidade de Georgetown, Dennis Wilder, ao VOA

Wilder disse à VOA na quinta-feira que a visita de Liu é “projetada em parte para garantir que Washington e Pequim se entendam antes da eleição do novo líder de Taiwan”.

Na próxima semana, Blinken e o Premier chinês Li Qiang participarão das reuniões econômicas anuais no resort montanhoso suíço.

O Departamento de Estado disse em um comunicado que Blinken discutirá questões de preocupação global, incluindo o compromisso dos EUA com a ordem internacional baseada em regras, enquanto participa das reuniões no Fórum Econômico Mundial em Davos.

As conversas de Blinken com autoridades chinesas são descritas como esforços contínuos para manter linhas abertas de comunicação, gerenciar responsavelmente as diferenças entre as duas nações e abordar uma série de questões. Isso inclui preocupações de segurança global e regional, como tensões no Mar do Sul da China. Taiwan também estará entre os tópicos.

Washington expressou sua oposição à “interferência externa ou influência maligna” nas eleições de Taiwan.

Eleições de Taiwan

A diplomacia de Washington e Pequim sobre Taiwan é de morde e assopra. Com uma mão os EUA enviam ajuda militar o tempo todo e são continuamente rechaçados pelos chineses por isso. Na outra mão registra um release com porta-vozes anônimos para afirmar que não apoia a independência da ilha.

O professor Diego Pautasso, colaborador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), do Centro de Estudos da América Latina e Caribe da Universidade de Ciência e Tecnologia do Sudoeste (Sichuan/China) e da Especialização em Relações Internacionais (UFRGS-Comando Militar do Sul), publicou uma sequência de postagens no X (antigo Twitter) sobre as eleições deste sábado em Taiwan.

“Taiwan enfrenta uma eleição que pode ser decisiva. Os EUA seguem insuflando o separatismo na Ilha – o que temos chamado de tentativa de “ucranização”. A China segue a mesma linha desde a Revolução: Taiwan é parte indissociável do continente.”

Diego Pautasso

Na corrida eleitoral acirrada de Taiwan, três candidatos despontam como principais concorrentes. Lai Ching-te lidera as pesquisas, seguido por Hou Yu-ih e Ko Wen-je.

Lai Ching-te, do Partido Progressista Democrático (DPP, da sigla em inglês) e apoiado pela atual presidenta Tsai Ing-wen. Já foi deputado, prefeito de Tainan, e é um seccionista, defensor da independência da ilha.

Ele promete manter a postura do governo atual de considerar Taiwan independente sem a necessidade de uma declaração formal ou novas ações.

Apesar de liderar as pesquisas, Lai enfrenta críticas sobre questões de habitação e desigualdade de renda.

Hou Yu-ih, do Kuomintang (KMT), partido nacionalista, aparece em segundo nas pesquisas, apoia uma maior aproximação com Pequim e busca maneiras de aliviar as tensões. Com uma carreira na polícia e experiência como prefeito de Nova Taipei, ele representa uma abordagem mais conciliatória em relação à China.

Ko Wen-je, do Partido Popular de Taiwan (TPP, da sigla em inglês), o terceiro candidato e ex-prefeito de Taipei, busca uma terceira via, focando mais nas questões internas da ilha do que nas relações com a China continental.

Pautasso comenta a disputa eleitoral apertada.

“A corrida presidencial é entre Lai Ching-te (do Partido Democrático Progressista), vice-presidente do atual presidente Tsai Ing-wen, com cerca de 35% das intenções de voto, contra Lai, Hou Yu-ih (do Kuomintang) com 31%. Uma corrida apertada…”, escreveu.

O professor observa ainda que “apesar das reivindicações de certos setores na Taiwan e do apoio crescente vindo da Casa Branca, a China tornou-se mais rica e mais forte. O continente é de longo o maior parceiro comercial da ilha. O mapa das exportações é ilustrativo.”

(Foto: @diegopautasso)

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