Na China, Maduro se reúne com Dilma e pede apoio de Pequim para levar Venezuela ao Brics

Segundo Caracas, Nicolás Maduro e Dilma Rousseff discutiram papel do Banco do Brics na 'construção de um novo sistema econômico mundial'

Prensa presidencial Presidente venezuelano se reuniu com Dilma Rousseff na sede do NDB, em Xangai

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, seguiu em visita oficial à China durante este final de semana, em agenda que deve durar até esta quinta-feira (14/09). Neste domingo (10/09), o mandatário visitou a sede do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês) e se reuniu com a ex-presidente brasileira e chefe da instituição Dilma Rousseff.

Pelas redes sociais, Maduro afirmou que a Venezuela quer ser um “sócio, um aliado e um amigo” do banco e que o país vê “com grande admiração o processo geopolítico do Brics, que é um poderoso motor de articulação do novo mundo”.

Em comunicado, a Presidência venezuelana afirmou que Maduro e Dilma “dialogaram sobre o impacto da entidade bancária na construção de um novo sistema econômico mundial, assim como o interesse de várias nações em formar parte da entidade financeira”.

Antes da viagem, Maduro já havia manifestado interesse em levar a Venezuela ao Brics e ao NDB. Em maio, quando visitou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília, o venezuelano disse que o país queria ser parte do bloco e, em agosto, enviou uma proposta formal de ingresso.

Na última cúpula do Brics, entretanto, os membros decidiram ampliar o grupo com a adesão de seis novos membros, mas a Venezuela não está entre eles.

Em entrevista à agência chinesa Xinhua, publicada neste domingo, o mandatário voltou a manifestar interesse em entrar no Brics e disse que o assunto está na pauta de sua agenda de seis dias no país asiático.

“Seriam três linhas de trabalho: fortalecer a relação China-América Latina e o Caribe, fortalecer o grupo de defesa da Carta das Nações Unidas para uma refundação da ONU e a entrada da Venezuela no Brics para seguir fortalecendo o processo de nascimento de um mundo novo”, disse.

A visita de Maduro à China e a reunião com Dilma Rousseff foi precedida pela ida da vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, que também teve um encontro com a presidente do NDB na última quarta-feira (06/09).

Segundo economistas venezuelanos consultados pelo Brasil de Fato, a visita das autoridades do país ao Banco do Brics poderia significar a busca de Caracas por novas fontes de financiamento e obtenção de divisas para escapar do bloqueio dos EUA.

Alvo de mais de 900 sanções, a Venezuela passa por uma crise na indústria petroleira, a principal fonte de dólares do país, após ter suas exportações praticamente paralisadas por sanções impostas por Washington. A queda nos ingressos, a escassez de dólares e a impossibilidade de realizar pagamentos no sistema financeiro internacional gerou diversas turbulências econômicas no país.

A agenda de Maduro na China, que ocorre durante a cúpula do G20 em Nova Déli, ainda deve incluir uma reunião com o presidente chinês, Xi Jinping, que cancelou sua participação no encontro na Índia.

Zonas econômicas especiais

Antes de viajar a Xangai para a reunião com Dilma no NDB, Maduro esteve na cidade de Shenzhen, considerada uma “zona econômica especial” na China por possuir legislações alternativas que visam incentivar a produção econômica. Polo tecnológico, a cidade abriga a sede da empresa Huawei e foi apelidada de “vale do silício” da China.

Ali, o presidente da Venezuela firmou um memorando com o Centro de Pesquisa de Zonas Econômicas Especiais da Universidade de Shenzhen para “cooperação, desenvolvimento e modernização”.

Em julho do ano passado, o Parlamento venezuelano aprovou um projeto para a criação de diversas Zonas Econômicas Especiais no país, alguma delas já sancionadas e inauguradas pelo Executivo. Segundo os autores do projeto, a ideia é criar espaços com incentivos fiscais para que investidores públicos e privados, nacionais e estrangeiros, desenvolvam projetos em distintas áreas da economia do país.

As ZEE’s, como passaram a ser chamadas, são vistas pelo governo como uma possível solução para a crise econômica, pois podem atrair investimentos para setores não-petroleiros da economia e trazer mais divisas ao país. Críticos ao projeto, no entanto, apontam para os riscos de modificar legislações fiscais e acabar cedendo a soberania do país sobre seus recursos.