A crise energética da China, que provocou uma forte alta nos preços de commodities como petróleo, gás natural e carvão, vai afetar diretamente a indústria química brasileira, diz a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Segundo o presidente-executivo da Abiquim, Ciro Marino, cerca de 50% da demanda da indústria química brasileira é importada e boa parte disso vem da China.
Ele alerta que a crise de recursos naturais no país asiático era prevista, uma vez que a indústria chinesa pode estar chegando “ao ponto” de exaurir recursos.
“Eles são finitos. A gente já antecipava o que aconteceria lá, e tivemos um complicador na pandemia, com uma desorganização gigante de suprimentos no mundo”, afirma.
Marino avalia que a China é o maior desafio que o mundo tem de enfrentar, já que tem a maior indústria global, com um faturamento três vezes acima dos Estados Unidos — de US$ 1,5 trilhão — e enfrenta problemas com energia, falta de insumos e questões logísticas.
“Não existe hoje, no mundo, uma indústria que opere de forma confortável com a disponibilidade de matéria-prima”, acrescenta.
O executivo da Abiquim pondera que, apesar da disparada dos preços das commodities, hoje, o cenário da indústria química já enfrentava dificuldades, principalmente, com a falta de insumos e problemas domésticos, como a crise hídrica que, consequentemente, deverá afetar a distribuição de energia elétrica no Brasil.
“Tempestade perfeita”
“O governo assegura que não terá apagão, mas ele não pode assegurar preço. A nossa indústria vive uma tempestade perfeita”, diz Marino referindo-se às altas do dólar, do petróleo e de outras commodities como o gás natural, que resultaram em alto custo de importação e de produção.
Para o executivo, o setor que mais preocupa é o de fertilizantes, no qual 90% do que é usado no Brasil é importado. “O país se desindustrializou nesse ramo e as indústrias brasileiras não conseguem competir com o custo alto. Vejo um cenário delicado para a agricultura brasileira”, diz.
Apesar de prever que os próximos seis a sete meses sejam desafiadores para o setor químico, em meio à falta de suprimentos, Marino reforça que será um período de ansiedade à espera dos impactos da crise energética chinesa.
“Preços são elásticos. Resta saber até onde vai essa elasticidade. Até lá, a nossa indústria deve ficar estagnada”, observa, embora a Abiquim preveja um crescimento perto de 10% da indústria química este ano, um pouco abaixo da alta de 11% registrada em 2020.
Porém, o executivo acredita que um momento de crise pode ajudar o Brasil, de alguma forma. “Isso pode mostrar que a China está com saturação de recursos. O Brasil vira herdeiro e se pegarmos 10% deles, a gente dobra a nossa indústria”, finaliza.