A afirmação de que o general teria ameaçado não permitir eleições democráticas, caso o voto impresso, desejado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), não seja aprovado pelo Congresso Nacional, foi publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, que relatou um “duro recado” que Braga Netto teria enviado a Lira.
O presidente da Câmara dos Deputados também rebateu a reportagem publicada hoje. Questionado sobre a reportagem pela agência Reuters, Lira e respondeu em uma mensagem de texto: “mentira”.
Segundo o jornal, o militar teria pedido, acompanhado dos representantes militares do Exército, Marinha e Aeronáutica, “para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável”. Braga Netto, porém, teria desconsiderado o fato de que o voto da urna eletrônica já é auditável.
Pelo Twitter, o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso, comentou a notícia e disse que conversou com Braga Netto e com Arthur Lira pelo telefone e que ambos desmentiram “enfaticamente” a ameaça de um possível golpe contra as instituições democráticas e ao pleito eleitoral.
“Temos uma Constituição em vigor, instituições funcionando, imprensa livre e sociedade consciente e mobilizada em favor da democracia”, escreveu.
Questionamentos sem provas
De acordo com a publicação, Braga Netto teria dado o aviso no dia 8 de julho. No mesmo dia, Jair Bolsonaro chegou a afirmar a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada que só haveria eleições em 2022 “se elas fossem limpas”, insinuando que o pleito do ano que vem poderia não ocorrer.
Sem provas ou indícios, o presidente tem reiterado que o atual sistema eletrônico é passível de fraudes e que é preciso implementar o voto impresso. A insinuação infundada é a de que poderia haver fraude nas atuais urnas para derrotá-lo no ano que vem.
Ao contrário do que afirma Bolsonaro, o sistema eletrônico de votação é auditável e, desde a implementação da urna eletrônica em 1996, nunca foi comprovada uma fraude realizada em todas as eleições feitas desde então.
Ainda de acordo com O Estado de S. Paulo, Arthur Lira considerou o recado como uma ameaça de golpe e procurou Bolsonaro para uma conversa na qual, segundo relatos, respondeu que não embarcaria em rupturas institucionais e não admitiria golpes.
No encontro, publica o jornal, o presidente repetiu que “respeitava as quatro linhas da Constituição” e nunca defendeu golpe, mas Lira reafirmou que o recado enviado a ele tinha sido muito claro.
Ao falar em um evento que acontecia no Ministério da Defesa sobre a proteção da Amazônia, Braga Netto leu uma nota oficial da pasta sobre a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. O texto, porém, não desmente a afirmação de que os militares poderiam suspender as eleições. Veja a íntegra da nota:
Em relação à matéria publicada em veículo de imprensa, no dia de hoje, que atribui a mim mensagens tentando criar uma narrativa sobre ameaças feitas por interlocutores a Presidente de outro Poder, o Ministro da Defesa informa que não se comunica com os Presidentes dos Poderes, por meio de interlocutores.
Trata-se de mais uma desinformação que gera instabilidade entre os Poderes da República, em um momento que exige a união nacional.
O Ministério da Defesa reitera que as Forças Armadas atuam e sempre atuarão dentro dos limites previstos na Constituição. A Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira são instituições nacionais, regulares e permanentes, comprometidas com a sociedade, com a estabilidade institucional do País e com a manutenção da democracia e da liberdade do povo brasileiro.
Acredito que todo cidadão deseja a maior transparência e legitimidade no processo de escolha de seus representantes no Executivo e no Legislativo em todas as instâncias.
A discussão sobre o voto eletrônico auditável por meio de comprovante impresso é legítima, defendida pelo Governo Federal, e está sendo analisada pelo Parlamento brasileiro, a quem compete decidir sobre o tema.