Enchente na China: passageiros contam como escaparam de inundação em metrô que matou 12

Água invadiu estações em Zhengzhou após chuvas históricas, e 500 pessoas tiveram de ser resgatadas.

Doze pessoas morreram em inundações nos túneis do metrô em Zhengzhou, na Província de Henan, região central da China.

Na terça-feira (20), parte do sistema de proteção da cidade contra inundações cedeu devido às fortes chuvas e a água começou a invadir as estações.

Mais de 500 pessoas foram resgatadas, segundo as autoridades locais. Vídeo compartilhado nas redes sociais mostra algumas pessoas com água próxima ao pescoço; outro retrata uma correnteza que varre as plataformas.

Sobreviventes relataram nas redes sociais que a água começou a entrar pela fresta das portas dos vagões, subindo lentamente “dos nossos calcanhares para o joelho, até chegar ao pescoço”.

Crianças tiveram a ajuda dos pais, que as levantaram para que ficassem acima do nível da água, enquanto outros se apoiavam em qualquer coisa que lhes servisse de anteparo para tentar manter a cabeça fora da água. Após cerca de meia hora, segundo um passageiro, começou a ficar “difícil de respirar”.

A determinação para interromper o serviço da linha foi dada às 18h10 do horário local (7h10 de Brasília), de acordo com o comunicado divulgado pelas autoridades de Zhengzhou, para que o resgate dos passageiros pudesse ser feito. Além das 12 mortes, outras cinco pessoas ficaram feridas.

200 mil desalojados

Na superfície, estradas se transformaram em rios por onde a água arrastava com velocidade carros e destroços e colocava em risco a vida de pedestres.

Em toda a Província, o total de vítimas das chuvas intensas registradas nos últimos dias chega a 25. Mais de 200 mil pessoas tiveram de deixar suas casas. O sistema de transporte foi duramente afetado, com cancelamento de voos e viagens de trem.

O presidente da China, Xi Jinping, afirmou que os temporais provocaram “perdas significativas de vidas e danos à propriedade”.

‘Sem água, eletricidade, internet’

Em Zhengzhou, o volume de chuvas dos últimos dias equivale à média do que é observado em um ano inteiro.

As imagens do metrô em Zhengzhou não foram as únicas dos momentos de desespero. Em outro ponto da cidade, crianças tiveram de ser resgatadas de uma creche que também foi tomada pela água. Canais de televisão do governo mostraram os alunos sendo retirados em bacias de plástico.

O hospital da Universidade de Zhengzhou chegou a ficar sem energia por um período na noite de terça, conforme um comunicado publicado pelo Comitê do Partido Municipal de Zhengzhou na rede social Weibo. Ainda segundo o texto, 600 pacientes em estado grave tiveram de ser transferidos para outra unidade de saúde.

Os prejuízos não ficaram limitados a Zhengzhou. Na cidade de Luoyang, as chuvas abriram uma rachadura de 20 metros em uma barragem, disseram as autoridades locais. Militares foram enviados à área para tentar controlar a situação. Um comunicado do exército, contudo, advertiu que a estrutura poderia “entrar em colapso a qualquer momento”.

Nas redes sociais, um usuário disse que moradores da cidade de Sishui estavam presos nos telhados por causa das enchentes. “Não sabemos nadar… todo o vilarejo está prestes a ser levado pela água”, escreveu.

O que causou as enchentes?

A província de Henan tem sido atingida por “chuvas atípicas e intensas” desde sábado, informou a autoridade meteorológica da China na quarta. Zhengzhou “quebrou recorde histórico” com precipitações de 624 milímetros na terça — um terço do total apenas entre 16h e 17h.

Ainda segundo a autoridade meteorológica, a região deve continuar assistindo a temporais e tempestades pelo menos até quinta-feira (22).

As enchentes podem ter como causas diferentes fatores, mas o aquecimento da atmosfera causado causado pelas mudanças climáticas aumenta a probabilidade de eventos extremos como as tempestades.

A província de Henan está na grande bacia do Rio Amarelo, o segundo maior rio do país. Assim, a região é cortada por uma rede fluvial e, por isso, acaba sujeita a um risco elevado de inundações. A capital Zhengzhou, que contabiliza cerca de 12 milhões de habitantes, está às margens do Amarelo.

Nas últimas décadas, a China ergueu uma série de barragens na bacia do Rio Amarelo. Segundo o correspondente da BBC na China, Stephen McDonell, cientistas já haviam alertado que as obras de infraestrutura poderiam exacerbar os problemas causados pela mudança climática em uma zona tradicionalmente sujeita a inundações.

Ligações entre rios e lagos foram cortadas e planícies de inundação que antes absorviam grande parte das chuvas anuais de verão da região foram isoladas.

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