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sábado - 07 setembro 2024 - 21:22

Contra a Politização da Busca do Origem sobre COVID-19

No dia 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recebeu um alerta sobre casos de pneumonia atípica de causa desconhecida da província de Wuhan, China. Uma semana após foi identificado um novo Coronavírus como causa e conhecemos hoje como SARS-Cov-2 ou Covid-19.  

A situação tomou rumos desastrosos culminando com decreto de estado de pandemia no dia 11 de março de 2020 com a presença do vírus em circulação em 114 países, inclusive no Brasil.  Passados 529 dias da primeira morte ocorrida no dia 17 de março de 2020, contabilizamos 578.396 mil óbitos, ou 13% de todas as mortes por Covid-19 no mundo.  Apenas um detalhe, a população brasileira corresponde a somente 3% da população mundial.  Se o Brasil tivesse feito a média na implementação de medidas sanitárias, das 5 mortes por Covid-19 quatro teriam sido evitadas. 

Afinal, onde erramos? Trata-se de uma série de desventuras indicativas, de um lado desprezo pela ciência, em detrimento da valorização de opiniões de pseudoespecialistas; do outro a politização da torcida pró-vírus com um viés obscuro a servir interesses de poucos como tem sido revelado a cada dia pela Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19, no Senado.  O que a ciência nos diz sobre o SARS-Cov-2? 

É importante compreender que se trata de um vírus da família dos Coronavírus como o SARS-Cov (Severe Acute Respiratory Syndrome), hoje considerado erradicado, e do MERS-Cov (Middle-East Respiratory Syndrome) em tradução, Síndrome Respiratória do Médio Oriente, que é ativo, e como o nome sugere na região do oriente médio.  

Evidências científicas através de estudos apontam para origem da transmissão por um animal intermediário, visto que de fato foi encontrado o Sars-Cov-2 em morcegos e pangolins. Da mesma maneira no caso do SARS-Cov foi encontrado também em morcegos e o MERS-Cov em dromedários, sugerindo que esses animais possam ser reservatórios naturais destes vírus. 

A transmissão dos coronavírus pode ter sido favorecida por conta da degradação e exploração do meio ambiente com aproximação entre humanos e animais silvestres como relatado em estudos publicados em revistas científicas.   

Dado que a forma de transmissão é por contato, a adoção de métodos de barreira (máscara, óculos), higienização das mãos e distância física reduzem as chances de contágio. 

Todas as vacinas ( CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer e Janssen) aprovadas para a imunização no Brasil foram desenvolvidas com todo o rigor científico e são eficazes na prevenção da forma grave e da morte por Covid-19, visto os resultados de campo terem mostrado redução do número de mortes na medida em que aumenta porcentagem de vacinação na população.  

Entretanto, nas mídias sociais e nos grupos de Whatsapp circula entre várias teorias que o vírus teria sido fabricado, porém, não encontra nenhum respaldo científico ter sido criado em laboratório. Da mesma maneira circula que, a vacina Coronavac desenvolvida pela Sinovac e Butantã incluiria um chip para espionagem e controle da mente.  

Contudo, é tão fantasiosa essa ideia e futurística que não temos sequer tecnologia para tal feito. Igualmente circula, que não é necessário fazer uso de máscara, higienização das mãos e manter distância física, desqualificando tudo o que já sabemos sobre como é a forma de transmissão. Ainda mais, desde preconizar uso de tratamento clínicos sem eficácia (kit-Covid: cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina) e insistir nisso mesmo com evidências científicas publicadas mostrando que não funcionam além de aumentar a mortalidade. 

Pior, no momento da maior crise em Manaus, quando os pacientes estavam morrendo por falta de oxigênio, o governo federal alocava esforços e recursos nesta panaceia de “cura”, ao invés de providenciar oxigênio.  Tem sido apurada na CPI da Covid-19 tramitando no Senado, de que essa infodemia – excesso de informação sobre determinado assunto, muitas vezes incorreta, sendo produzida por fontes não verificadas ou pouco fiáveis – é integrante ativo da politização adotada por membros do governo federal, parlamentares e seus apoiadores para a gestão da crise sanitária, a qual foi extremamente deletéria para a saúde pública da nação e, o que é pior, destacada como uma agenda de interesse de poucos. 

O resultado desta politização é o que vemos, rompendo como um desastre de proporções bíblicas com perdas humanas altíssimas e sofrimento de muitos mais, seja pelo processo de luto ou pela luta na recuperação das sequelas da dita “gripezinha” nos sobreviventes. As sequelas da Covid-19 reconhecidas como Síndrome pós-Covid-aguda ou Covid-longa são variadas e podem acometer todos os órgãos no corpo, desde a queda de cabelos até palpitação no coração como mostram os estudos científicos. Eis um desafio que o sistema de saúde, previdência e seguridade social irão enfrentar. 

Isso sem mencionar a questão de saúde mental que tem assolado todos os indivíduos que tiveram Covid-19 ou não. A pandemia ainda não acabou, precisamos acelerar a vacinação, continuarmos vigilantes e manter as normas sanitárias ao usar máscara, higienizar as mãos e manter distância física.  Acreditem na Ciência para o bem coletivo e não a politização para benefício de poucos.

Li Li Min é médico, neurocientista, gestor, professor titular e chefe do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp

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