A nova onda de tarifas comerciais e medidas protecionistas lançada pelo governo Donald Trump vem provocando tensões em toda a economia global, mas também abrindo uma janela de oportunidades para os países do BRICS — grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e, desde 2024, novos integrantes como Egito, Arábia Saudita e Irã.
Ao tentar “reindustrializar” os Estados Unidos por meio de barreiras comerciais e sanções unilaterais, Washington acabou afastando parceiros históricos e acelerando a busca por novas rotas de cooperação econômica entre as potências emergentes. Especialistas ouvidos pela Jacobin Brasil afirmam que o cenário atual “recoloca o BRICS no centro da reorganização do comércio mundial”, especialmente em áreas estratégicas como energia, tecnologia e financiamento de infraestrutura.
A política de tarifas — que atinge produtos de dezenas de países, inclusive aliados europeus — gerou retaliações diplomáticas e comerciais. A China, principal alvo das medidas, respondeu fortalecendo acordos com o Sul Global e expandindo o uso do yuan em transações internacionais. O Brasil, por sua vez, vem se beneficiando do realinhamento, ampliando exportações agrícolas e de mineração para o mercado asiático e reforçando sua posição como fornecedor de commodities em um contexto de volatilidade nos Estados Unidos.
Além da dimensão comercial, o avanço do BRICS se dá também no campo financeiro. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), presidido por Dilma Rousseff, vem aumentando empréstimos em moedas locais e estimulando projetos de infraestrutura sustentável — estratégia vista como alternativa à dependência de capitais denominados em dólar.
Para analistas internacionais, as medidas de Trump, ao fragmentarem o sistema multilateral, criam um “vácuo de liderança” que o BRICS tem condições de preencher. “Os países do bloco estão demonstrando capacidade de coordenação e visão de longo prazo em um momento de retração das potências ocidentais”, avalia um relatório do Instituto de Estudos de Política Econômica (IEPE).
Na prática, a guinada protecionista dos EUA reforça a percepção de que a globalização precisa ser reequilibrada. O BRICS, que completará 20 anos em 2026, aparece hoje como um dos principais fóruns de construção desse novo paradigma, centrado em cooperação, multipolaridade e desenvolvimento inclusivo — valores que contrastam com o isolamento crescente de Washington.













