Astronautas chineses festejam os 75 anos de fundação da República Popular da China da Estação Espacial Tiangong
Para marcar o 75º aniversário da fundação da República Popular da China (RPC), celebrada nesta terça-feira (1º), a tripulação da Shenzhou-18 enviou bênçãos especiais do espaço.
A tripulação da Shenzhou-18, que está de serviço na Estação Espacial Tiangong há mais de cinco meses, receberá a chegada da Shenzhou-19 para a quinta rotação de tripulação em órbita até o final deste mês de outubro, informou a Agência Espacial Tripulada da China.
O comandante da missão, Ye Guangfu, e os membros da tripulação, Li Cong e Li Guangsu, entraram na estação espacial chinesa em 26 de abril. Em celebração ao Dia Nacional da China, eles participaram de uma transmissão ao vivo do módulo central Tianhe, transmitindo sinceros votos à nação e ao povo.
Ye, que já passou um total de 340 dias no espaço durante sua carreira como taikonauta, disse estar imensamente orgulhoso das grandes conquistas que a China alcançou no campo aeroespacial.
“A Estação Espacial Tiangong representa décadas de esforço de gerações de trabalhadores espaciais. É um símbolo dos avanços modernos da China e um testemunho da força de nossa nação na nova era”, disse.
Li Cong e Li Guangsu, ambos viajando ao espaço pela primeira vez, disseram que se sentem afortunados por viver em uma era tão grandiosa. Eles expressaram sua gratidão aos inúmeros cientistas e engenheiros que trabalharam incansavelmente para apoiar sua vida no espaço e reafirmaram seu compromisso de completar a missão com sucesso.
“Nós desejamos prosperidade e felicidade à nossa grande pátria, assim como bem-estar a todo o seu povo”, concluíram os três taikonautas.
Peixes no espaço
Durante a transmissão ao vivo, a tripulação da Shenzhou-18 também compartilhou atualizações sobre um projeto de pesquisa-chave, o mais popular que atraiu ampla atenção – o experimento de criar peixes no espaço. Este é o primeiro projeto de pesquisa de ecossistema aquático em órbita da China.
“Observamos cuidadosamente o estado de crescimento dos peixes-zebra que nos acompanham há vários meses. De acordo com o plano da missão, realizaremos mais de 90 experimentos científicos relacionados à criação de peixes-zebra. Até agora, todas as tarefas estão progredindo bem”, detalhou Li Guangsu sobre o experimento para o público.
Durante os feriados do Dia Nacional, a tripulação da Shenzhou-18 manterá uma programação regular, equilibrando trabalho e descanso. Grande parte do tempo será dedicada a experimentos científicos em andamento, coleta de dados e à manutenção dos sistemas de suporte à vida da estação espacial.
Eles também estão se preparando para a chegada da tripulação da Shenzhou-19, organizando suprimentos e equipamentos em antecipação à troca de tripulação em órbita na estação espacial chinesa.
De acordo com a Agência Espacial Tripulada da China, o país planeja lançar a espaçonave tripulada Shenzhou-19 ainda este mês, preparando o caminho para o retorno da tripulação da Shenzhou-18. Após mais de seis meses no espaço, os astronautas da Shenzhou-18 em breve completarão sua missão e iniciarão sua jornada de volta para casa.
Como a China está conquistando o espaço
A China tem se destacado como uma potência emergente na exploração espacial e realizado uma série de conquistas notáveis desde os anos 1960. Ao longo dessas décadas evoluiu de um iniciante no espaço para um líder global. Desde seus primeiros satélites e missões tripuladas até suas recentes conquistas em Marte e na Lua, o país continua a expandir sua presença no espaço sideral com metas ambiciosas para o futuro.
O programa espacial chinês começou oficialmente em 1956 com a criação do “Fifth Academy of the Ministry of National Defense”, “Quinta Academia do Ministério da Defesa Nacional”, em tradução livre. Essa instituição foi fundamental para o desenvolvimento inicial do programa espacial da China, com foco em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias relacionadas a foguetes e mísseis.
A China lançou seu primeiro satélite, Dong Fang Hong 1, em 24 de abril de 1970, tornando-se o quinto país a colocar um satélite em órbita. O satélite transmitia a famosa canção chinesa “O Leste é Vermelho” do espaço.
Durante os anos 1980, a China começou a desenvolver e lançar foguetes Longa Marcha (Chang Zheng), que se tornaram a base para suas missões espaciais subsequentes. O país também começou a oferecer serviços de lançamento comercial para satélites de outros países.
Em 15 de outubro de 2003, a China enviou seu primeiro astronauta, Yang Liwei, ao espaço na missão Shenzhou 5, tornando-se o terceiro país a realizar uma missão tripulada de forma independente.
Nos anos seguintes, a China continuou a realizar missões tripuladas, incluindo a Shenzhou 6 (2005) e Shenzhou 7 (2008), que contou com a primeira caminhada espacial de um astronauta chinês.
Em 2007, a China lançou a sonda lunar Chang’e 1, dando início ao programa de exploração lunar. Em 2013, a sonda Chang’e 3 aterrissou na Lua, levando o robô explorador Yutu (Jade Rabbit), marcando o primeiro pouso suave na Lua desde a missão Luna 24 da União Soviética, em 1976.
Com a missão Chang’e 4, a China foi o primeiro país a pousar com sucesso no lado oculto da Lua, um feito histórico para a ciência espacial mundial.
Em julho de 2020, a China lançou a missão Tianwen-1 rumo a Marte. A missão incluiu um orbitador, um pousador e um rover chamado Zhurong. Em maio de 2021, a China tornou-se o segundo país, depois dos EUA, a pousar com sucesso em Marte e operar um rover na superfície.
A China começou a desenvolver sua própria estação espacial. Em 2011, a primeira estação espacial experimental, Tiangong-1, foi lançada, seguida pelo Tiangong-2 em 2016. Em 2021, a China deu um passo adiante com o lançamento do módulo central Tianhe, que compõe a estação espacial permanente Tiangong. A estação está sendo montada em órbita e receberá astronautas regularmente.
A potência asiática continua investindo pesado em seu programa espacial com planos ambiciosos, como o envio de astronautas à Lua por volta de 2030 e o desenvolvimento de novas tecnologias de exploração, como a pesquisa de amostras do planeta Marte e a criação de bases lunares.
O pai do programa espacial chinês
A Quinta Academia do Ministério da Defesa Nacional era dedicada ao desenvolvimento de mísseis e tecnologias espaciais. O engenheiro Qian Xuesen, que retornou dos EUA, foi crucial nesse início e fundador da instituição.
Qian Xuesen (1911-2009), também conhecido como Hsue-Shen Tsien, foi um renomado cientista chinês, muitas vezes chamado de “pai do programa espacial chinês”. Ele desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento dos primeiros programas de mísseis balísticos e espaciais tanto nos Estados Unidos quanto na China.
Qian foi educado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), onde se destacou em engenharia aeroespacial. Durante sua carreira nos EUA, ele se tornou uma figura chave no desenvolvimento de tecnologias de foguetes e mísseis balísticos. Trabalhou com alguns dos mais renomados cientistas da época, incluindo Theodore von Kármán, e participou do desenvolvimento dos foguetes JATO (Jet-Assisted Takeoff), fundamentais para a aviação militar.
Apesar de sua contribuição significativa, Qian foi acusado de simpatias comunistas durante o período de “caça às bruxas” do macartismo nos EUA, liderado pelo senador Joseph McCarthy. Ele foi colocado sob prisão domiciliar e, após anos de restrições, foi deportado para a China em 1955 como parte de um acordo entre os dois países.
Após seu retorno, Qian rapidamente se tornou a principal figura na criação do programa de mísseis balísticos e da exploração espacial da China. Sob sua liderança, a China conseguiu desenvolver seus primeiros mísseis balísticos e lançar o primeiro satélite. Ele também foi essencial na criação da base científica que possibilitou o avanço do programa espacial tripulado da China décadas depois.
Por que taikonautas?
Os astronautas chineses são chamados de “taikonautas” devido à combinação da palavra “taikong”, que significa “espaço” em mandarim, com a palavra “astronauta”. Esse termo foi adotado para diferenciar os astronautas chineses dos astronautas de outras nações, como os “cosmonautas” (da Rússia) e os “astronautas” (dos Estados Unidos).
A palavra “taikonauta” teria surgido no final dos anos 1990, possivelmente usada pela primeira vez por entusiastas espaciais fora da China, principalmente na internet, e foi amplamente popularizada pela mídia internacional. Embora o governo chinês e a Agência Espacial Chinesa (CNSA) geralmente utilizem o termo “astronauta” em suas comunicações oficiais, “taikonauta” tornou-se amplamente aceito e reconhecido em inglês para se referir aos astronautas chineses.
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