Este artigo é uma declaração de respeito e gratidão à China, país amigo, solidário e maior parceiro comercial do Brasil. Na atual crise, é parte do alívio de nossas principais dores: a covid-19 e suas consequências econômicas. Se hoje temos uma vacina e nossas exportações apresentam superavits, devemos isso a nossa relação com os chineses. Muito obrigado — xiè xiè, China!
Quando fomos espectadores de uma série de declarações desrespeitosas, patrocinadas por dirigentes nacionais e seus seguidores, fiquei em dúvida sobre sua capacidade de entender o que acontece no mundo. Não se pode ignorar que o crescimento da China e do Oriente não dependem de gostos e simpatias: é realidade econômica e política concreta e inexorável. Fruto de estratégia, inteligência e trabalho.
A diplomacia chinesa na pandemia é de uma inteligência que merece reconhecimento. Consegue ajudar os países amigos, mesmo tendo que enfrentar a covid-19 em seu território e vacinar uma população que é um quinto da mundial. Aliás, hoje é o único país que consegue atender aos parceiros com vacinas, enquanto imuniza sua população, e tem sucesso em manter controle sobre a propagação do coronavírus. Nesses tempos difíceis, a China pode contar não apenas com o governo, mas, também, com sua população. Traço comum aos países orientais: não importando os matizes políticos, sempre se destacam pela organização, comportamento e disciplina.
Seu modelo de diplomacia deve ser reconhecido e saudado, pois cristaliza o pensamento de que a vacina é um bem para a humanidade. Essa atitude permitiu que fôssemos pioneiros nesse modelo de cooperação, que inclui também países como a Turquia e a Indonésia — que estariam à deriva se dependessem da ajuda dos EUA e da Europa. Esse modelo de cooperação é responsável por estarmos à frente de 50 países em volume e velocidade de entregas na compra de vacinas e de IFA (ingrediente farmacêutico ativo). Elemento crítico para fabricação de vacinas tanto da CoronaVac quanto da AstraZeneca, da Fiocruz.
Por isso, temos também que agradecer, e muito, à visão estratégica e diplomática do governador João Doria, que, ainda em 2019, instalou um escritório de representação na China e estabeleceu acordos de cooperação com o laboratório Sinovac — cooperação firmada antes mesmo da pandemia, e que permite que São Paulo seja o produtor da vacina que hoje atende a mais de 80% dos brasileiros.
Os adeptos das teorias da conspiração costumam acusar a China de agir em nome de seus próprios interesses. Não é mentira. O que cabe observar é que interesses nacionais são a essência da diplomacia, e que a boa política externa busca justamente o encontro dos interesses comuns entre as nações — como acontece na essência das relações entre o Brasil e seus maiores parceiros. A economia e a crise são muito dependentes dos rumos da política externa brasileira. Por isso, é bem-vinda a mudança que, agora, se anuncia em sua condução, abandonando a orientação que tratava um parceiro estratégico como “inimigo ideológico”. A mudança do Itamaraty e o posicionamento, mesmo que tímido e contraditório de Brasília, apontam para o reconhecimento da importância da China.
Temos em comum uma história de vivência e relacionamento de longo prazo com a China. Podemos dar um depoimento abalizado sobre esse generoso país e seu povo. Dos anos 80 até os tempos atuais, temos acompanhado a revolução econômica e social vivida por esse país. Agradecer não apenas faz parte da boa educação entre as pessoas, mas também entre as nações. A isto se dá o nome de boa diplomacia. Para sair da crise em que nos encontramos, precisaremos de mais vacinas, mais suprimentos médicos, mais comércio e mais cooperação. Encerro com um xiè xiè (obrigado), China.