Em um discurso que ecoou como um trovão nos mercados globais, Donald Trump, candidato à presidência dos EUA, acusou a China de ter “violado completamente” o acordo comercial assinado em 2020 entre as duas potências. As declarações, feitas durante comício em Ohio, reacenderam os temores de uma nova escalada na guerra comercial sino-americana – um cenário que pode colocar o Brasil em uma posição delicada, justamente quando o país busca ampliar suas relações econômicas com Pequim.
O que está em jogo
O acordo de 2020, assinado na fase final do governo Trump, estabelecia que a China aumentaria suas compras de produtos americanos em US$ 200 bilhões até 2021. No entanto, dados do Peterson Institute for International Economics mostram que os chineses cumpriram apenas cerca de 60% do prometido.
Agora, Trump ameaça:
- Impor novas tarifas sobre produtos chineses
- Restringir ainda mais as exportações de tecnologia para a China
- Revisar acordos comerciais com países que mantêm relações estreitas com Pequim
“Eles nos enganaram completamente. Vamos tomar medidas muito duras”, afirmou o republicano, que lidera as pesquisas para as eleições americanas.
Impacto para o Brasil
As tensões entre Washington e Pequim colocam o Brasil em um dilema geopolítico:
- Risco de retaliações: Setores como o agronegócio, que depende fortemente da China, podem sofrer com eventuais medidas protecionistas
- Oportunidades comerciais: A China pode buscar diversificar suas importações, aumentando compras de commodities brasileiras
- Pressão diplomática: EUA podem cobrar um alinhamento maior do Brasil em questões sensíveis, como tecnologia e segurança
“O Brasil precisa navegar com cuidado nesse tabuleiro geopolítico”, analisa o professor de relações internacionais da FGV, Eduardo Mello. “De um lado, temos nosso maior parceiro comercial; de outro, um aliado estratégico tradicional.”
Reação dos mercados
As declarações de Trump já causaram impacto:
- Bolsas asiáticas caíram, com Xangai recuando 1,5%
- Commodities como soja e minério de ferro registraram volatilidade
- O dólar fortaleceu-se frente a moedas emergentes
No Brasil, analistas temem que uma nova guerra comercial global possa:
- Reduzir o fluxo de investimentos estrangeiros
- Afetar os preços de commodities
- Aumentar a incerteza no mercado cambial
O que esperar
Enquanto Trump mantém o tom beligerante, o governo chinês adotou postura mais contida. Em comunicado, o Ministério do Comércio da China afirmou que “honrou seus compromissos dentro das possibilidades do mercado global”.
Especialistas apontam três cenários possíveis:
- Escalada moderada: Aumento gradual de tarifas em setores específicos
- Guerra fria tecnológica: Restrições mais duras à transferência de tecnologia
- Acordo renegociado: Novo entendimento comercial pós-eleições americanas
Para o Brasil, o momento exige atenção redobrada. “Precisamos diversificar nossos parceiros e fortalecer nossa posição como fornecedor confiável”, recomenda a economista-chefe do Banco ABC, Claudia Fontes.
Enquanto Washington e Pequim ajustam suas posições, uma coisa é certa: os ventos da guerra comercial voltam a soprar, e o Brasil precisará de habilidade diplomática e estratégia econômica para não ser arrastado pela tempestade.