O Congresso Nacional em Brasília se transforma, a partir desta terça-feira (3/6), no epicentro do debate sobre o futuro dos países emergentes. A 11ª edição do Fórum Parlamentar do BRICS reúne delegações de 15 nações, incluindo China, Rússia, Índia e África do Sul, além de países parceiros como Egito, Emirados Árabes e Indonésia. O evento, que ocorre sob a presidência brasileira do bloco em 2025, marca um momento crucial para a consolidação da cooperação Sul-Sul em meio às tensões geopolíticas globais.
Agenda estratégica com destaque para Brasil-China
A programação do fórum reflete os desafios contemporâneos:
- Regulação da IA: Painéis discutirão ética e soberania digital, tema sensível para a parceria tecnológica Brasil-China
- Crise climática: Preparativos para a COP30 em Belém (PA) ganham destaque, com foco em financiamento verde – área onde os investimentos chineses em energia renovável no Brasil ultrapassaram US$ 30 bilhões desde 2020
- Comércio multilateral: Em meio a guerras tarifárias, o bloco debate alternativas ao dólar, incluindo maior uso de moedas locais nas transações bilaterais
A relação Brasil-China aparece como eixo transversal. “Somos o principal destino dos investimentos chineses na América Latina, com projetos que vão de infraestrutura à tecnologia limpa”, lembra o especialista Tulio Cariello, do Conselho Empresarial Brasil-China. Dados mostram que o fluxo comercial bilateral atingiu US$ 104 bilhões em 2023 – recorde histórico.
Mulheres e tecnologia: novo front de cooperação
Um dos destaques é a Reunião de Mulheres Parlamentares, que abordará:
- Inclusão feminina na economia digital
- Protagonismo em políticas climáticas
- Participação em cadeias produtivas estratégicas, como a de semicondutores
A delegação chinesa trará experiências como o programa “Mulheres na Ciência”, que já formou 20 mil pesquisadoras em IA – modelo que inspira projetos no Brasil.
Caminhos para o futuro
O fórum deve produzir um documento com diretrizes para:
- Fortalecer o Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS
- Acelerar a integração comercial com redução de barreiras
- Criar um marco comum para governança de tecnologias emergentes
As conclusões serão levadas à Cúpula de Líderes em julho, no Rio. Para o Brasil, o evento é chance de consolidar seu papel como ponte entre a China e outros emergentes – uma diplomacia que, nas palavras do ministro Alckmin, “equilibra pragmatismo econômico com defesa de um mundo multipolar”.
Enquanto os parlamentares debatem em Brasília, as ruas do Rio já preparam os tapetes vermelhos para o próximo ato dessa estratégia geoeconômica. A aposta é clara: num mundo fragmentado, o BRICS – e especialmente a parceria Brasil-China – pode ser a chave para um novo tipo de globalização.