Tarifas de Trump devem prejudicar mais os EUA do que China e Brasil, aponta estudo da CNI

Confederação Nacional da Indústria afirma que medidas protecionistas podem afetar PIB americano e reduzir exportações de commodities brasileiras, mas impacto será limitado para a China

(Foto: Reprodução)

As tarifas de 50% anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos do Brasil, China e demais países do BRICS podem acabar impactando mais a economia norte-americana do que as dos países-alvo. A avaliação é da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que divulgou nesta quarta-feira (17) um relatório sobre os possíveis efeitos da política tarifária norte-americana no cenário global.

Segundo a CNI, as medidas podem gerar uma retração de até 0,7% no Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, caso se confirmem as tarifas anunciadas tanto sobre importações brasileiras quanto chinesas, afetando especialmente setores como indústria de tecnologia, automóveis e agricultura. Para o Brasil, a estimativa é de uma redução de 0,2% no PIB, com impactos mais concentrados em commodities como aço, petróleo, carne bovina e farelo de soja.

Já no caso da China, o efeito seria ainda mais moderado, com retração de apenas 0,1% no PIB, conforme o estudo. Isso se deve, segundo a CNI, ao tamanho e à diversificação do mercado interno chinês, além da capacidade do país de redirecionar fluxos comerciais para outros parceiros, incluindo países do Sul Global e da própria Ásia.

“Ao mirar Brasil e China simultaneamente, os Estados Unidos podem acabar prejudicando seus próprios consumidores e empresas, que dependem de insumos e produtos importados desses países”, afirma o documento. A análise também destaca que, no médio prazo, tanto Brasil quanto China tendem a buscar alternativas de exportação e fortalecer seus mercados regionais, o que reduziria ainda mais o peso da economia americana no comércio global.

Brasil, China e o ajuste na rota comercial

O relatório da CNI reforça que o impacto sobre o Brasil será relevante principalmente para setores que possuem forte exposição aos EUA, mas que existe espaço para redirecionamento de parte das exportações para outros mercados, em especial China, Europa e Oriente Médio.

A China, que já é o principal parceiro comercial do Brasil, tende a se beneficiar desse cenário ampliando sua presença na compra de grãos, minérios e carnes brasileiras. “Com o aumento das barreiras nos EUA, o Brasil deve reforçar suas relações comerciais com a China, tanto via BRICS quanto em acordos bilaterais mais específicos”, destaca o texto.

Ao mesmo tempo, a CNI alerta que a concorrência no mercado asiático pode se intensificar, já que outros grandes exportadores também buscarão compensar perdas com os Estados Unidos aumentando sua presença na região.

Efeitos sobre a cadeia global

Outro ponto ressaltado pelo estudo é o efeito das tarifas sobre as cadeias globais de valor, principalmente nos setores de alta tecnologia. Para a indústria americana, o aumento de custos pode vir justamente da necessidade de substituir produtos chineses e brasileiros por alternativas mais caras ou menos eficientes.

“O protecionismo pode gerar um efeito boomerangue, prejudicando o dinamismo econômico dos EUA e acelerando a reconfiguração de cadeias produtivas em nível mundial”, alerta o relatório.

Reação do governo brasileiro

O Ministério da Indústria e Comércio do Brasil afirmou que está analisando os dados da CNI e deverá utilizá-los como argumento técnico em futuras negociações com os Estados Unidos e em fóruns multilaterais, incluindo o G20 e a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Em nota, o ministério destacou que o Brasil seguirá buscando diálogo com Washington, mas que reforçará suas parcerias estratégicas com a China e outros países do BRICS para minimizar riscos comerciais e ampliar sua inserção internacional.

A equipe da Agência Brasil China continuará acompanhando os desdobramentos desse tema e trará atualizações em tempo real sobre negociações comerciais e impactos econômicos para o Brasil, a China e demais países envolvidos.

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