A metáfora é clara e incômoda: tentar derrubar o trumpismo-MAGA com a marreta dos fatos, da lógica e da ética é como golpear uma parede atrás da qual se esconde uma maré prestes a transbordar. No melhor cenário, só se acaba cansado e encharcado. No pior, afogado.
Esse é o alerta para o jornalismo e para os oponentes políticos do ex-presidente americano Donald Trump. Durante anos, acreditou-se que a exposição de mentiras, escândalos e corrupção bastaria para frear o avanço do movimento MAGA. No entanto, a realidade provou o contrário. Mesmo após sucessivos escândalos em seu primeiro mandato, Trump manteve apoio sólido entre republicanos e sua base eleitoral.
A vitória de Joe Biden em 2020 deu a falsa impressão de que o movimento havia sido contido. Mas, sob sua gestão, o Partido Republicano se radicalizou ainda mais, e a eleição de 2024 transformou a maré em um verdadeiro tsunami de desinformação, meias-verdades e teorias conspiratórias. O movimento MAGA continua fluido, mutável e resistente a qualquer tentativa de ser “quebrado” pela abordagem tradicional da imprensa.
O artigo reforça que, embora a checagem de fatos continue essencial — como confrontar declarações sobre tarifas ou comparar visões distorcidas de liberdade na Europa e nos Estados Unidos —, ela já não é suficiente para proteger a democracia. A ausência de consequências para as mentiras faz com que a simples exposição dos fatos não tenha o mesmo impacto de antes.
O que fazer, então? A resposta não está em tentar fraturar algo que não pode ser quebrado, mas em conter. O jornalismo precisa construir barreiras institucionais e culturais que ajudem a limitar a propagação da retórica antidemocrática. Isso passa por criar seções fixas sobre democracia nos veículos, priorizar a cobertura de política local e movimentos sociais, explicar de forma contínua o funcionamento das leis e instituições e, sobretudo, abandonar o falso equilíbrio da cobertura de “ambos os lados” quando um deles ameaça diretamente a democracia.
Outra recomendação importante é que o jornalismo se autoanalise e investigue o papel e o poder da própria mídia nesse contexto. Ao ampliar o entendimento do público sobre seus direitos, o funcionamento da política, o papel do dinheiro nas campanhas e o impacto das decisões judiciais, a imprensa pode ajudar a erguer barreiras democráticas.
A esperança, segundo o artigo, é que, contido e exposto ao calor da conscientização e da luz do debate público, esse líquido antidemocrático possa, pouco a pouco, evaporar. Mas o primeiro passo para isso ainda é o mais difícil: educar e engajar o público em defesa da própria democracia.