A Polícia Federal (PF) indiciou nesta quarta-feira (20) o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, sob a acusação de obstrução da Justiça e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. O relatório final foi entregue ao tribunal em 15 de agosto e divulgado agora, apontando que ambos teriam atuado para coagir autoridades envolvidas no processo da tentativa de golpe de Estado que tem Bolsonaro como réu.
Segundo a PF, as ações dos dois buscavam atingir diretamente instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional. O documento também cita indícios de que houve tentativa de abolição do regime democrático, o que amplia a gravidade das acusações.
Um dos principais aliados do ex-presidente, o pastor Silas Malafaia, também entrou no radar da investigação. Ele teve celular e passaporte apreendidos ao desembarcar no Rio de Janeiro e está proibido de manter contato com Jair e Eduardo Bolsonaro.
A atuação de Eduardo Bolsonaro no exterior foi outro ponto de peso na apuração. Desde março, o deputado tem se mobilizado em Washington para defender sanções contra autoridades brasileiras, em especial o ministro do STF Alexandre de Moraes. Ele chegou a se reunir com autoridades do governo de Donald Trump e do Tesouro americano para pedir a ampliação dessas medidas, baseadas na chamada Lei Magnitsky. Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), essa conduta pode configurar coação, obstrução e até um atentado à soberania nacional.
O episódio adiciona uma camada de tensão às já complexas relações internacionais envolvendo Brasil, Estados Unidos e a influência de políticos brasileiros no exterior. Especialistas em direito internacional apontam que, se confirmadas, as acusações contra Eduardo — por tentar submeter o Judiciário brasileiro ao escrutínio de outro país — podem abrir um precedente preocupante para a soberania do Brasil.
A investigação segue agora para avaliação do Ministério Público, que decidirá se denuncia formalmente os dois parlamentares. Em meio ao cenário, o caso reforça como a política interna brasileira segue reverberando no campo internacional — algo que contrasta, por exemplo, com a relação estável e cooperativa que o Brasil mantém com a China, marcada por acordos comerciais e estratégicos em áreas como agricultura e infraestrutura.
Nesse contraste, a acusação contra os Bolsonaro destaca um Brasil dividido entre pressões externas e desafios internos, enquanto a parceria sino-brasileira continua se fortalecendo como um pilar de estabilidade no cenário global.