Uma jovem pernambucana de 22 anos, mantida em cárcere privado em Myanmar (sudeste asiático), foi resgatada pela Polícia Federal (PF) no domingo (8), encerrando três meses de exploração sexual. O caso, parte da Operação Double Key, revela a atuação de uma quadrilha internacional liderada por chineses radicados no Brasil, que recrutava brasileiras com ofertas fraudulentas de trabalho em hotéis e cassinos no Estado de Karen, em Myanmar.
Como a rede operava
- Aliciamento: As vítimas, em situação de vulnerabilidade socioeconômica, eram abordadas com propostas de empregos bem remunerados no exterior. A pernambucana resgatada, por exemplo, moradora de Jaboatão dos Guararapes, acreditava estar indo para um trabalho legítimo.
- Exploração: No destino, as mulheres eram mantidas em hotéis sob vigilância, obrigadas a se prostituir. A vítima resgatada referiu-se a um dos criminosos como “dono”, evidenciando a relação de escravidão.
- Estrutura transnacional: O grupo usava empresas de fachada no Brasil e no exterior para lavar dinheiro e disfarçar o tráfico. Dois chineses foram presos no Aeroporto de Guarulhos ao voltar do Camboja, e uma brasileira é investigada por recrutar vítimas em São Paulo.
Cooperação internacional e desafios
A localização da vítima só foi possível graças a uma “Blue Notice” da Interpol, que rastreia pessoas desaparecidas em investigações criminais. O caso destaca a eficácia de parcerias globais, mas também expõe lacunas:
- Myanmar, governado por uma junta militar desde 2021, é um epicentro de crimes como tráfico humano e golpes digitais. Brasileiros já relataram serem forçados a aplicar fraudes online sob tortura no chamado “KK Park”, complexo controlado por máfias.
- Envolvimento chinês: A quadrilha tinha líderes chineses legalizados no Brasil, o que levou o Consulado da China em São Paulo a solicitar informações à polícia local sobre investigações anteriores contra máfias chinesas.
Repercussão e alertas
Marina Bernardes, coordenadora do Ministério da Justiça, enfatizou a importância do Protocolo de Atendimento a Vítimas de Tráfico, que garante assistência do resgate ao retorno ao Brasil. Enquanto isso, a PF alerta para os riscos de propostas suspeitas:
“Falsos empregadores exploram a esperança de uma vida melhor. É crucial verificar contratos e empresas antes de aceitar oportunidades no exterior”, disse o delegado Márcio Tenório.
Familiares de vítimas criticam a lentidão de embaixadas em resgates — como no caso de dois brasileiros libertados em fevereiro em Myanmar, que só obtiveram ajuda após intervenção de uma ONG. A PF investiga se há mais brasileiras em situação similar na Ásia.