Nos últimos meses, os preços do café registraram aumentos expressivos no Brasil, o maior produtor e exportador global da commodity. No dia 12 de fevereiro, o indicador Cepea/Esalq do café arábica tipo 6 chegou aos R$ 2.769,45 pela saca de 60 quilos, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP. Trata-se do maior valor da série histórica, iniciada em 1996, e de um salto anual de mais de 170%.
Uma série de eventos impactou a produção e os preços do café no Brasil, principalmente as condições climáticas extremas. A seca prolongada e depois chuvas tardias afetaram a quantidade e a qualidade da safra na principal região produtora.
Além disso, o aumento da demanda nos mercados em crescimento, incluindo a China, também é considerado um fator contributivo. Segundo uma entrevista recente pela Forbes com Vanúsia Nogueira, diretora-executiva da Organização Internacional do Café, países como China, Filipinas, Tailândia e Índia estão seguindo os passos do Japão e da República da Coreia no consumo de café.
O mercado consumidor de café na China cresceu rapidamente nos últimos anos, com alta dependência de importações, devido à produção doméstica limitada. As três maiores origens das importações de café pela China são Brasil, Etiópia e Colômbia. Dados da Administração Geral das Alfândegas da China mostram que, em 2024, o país importou mais de 75,6 mil toneladas do café brasileiro.
No entanto, as flutuações do preço do café brasileiro têm impacto limitado no mercado chinês. Nas diversas cafeteiras em Beijing, Shanghai e Guangzhou, metrópoles chinesas, no geral os preços do café se mantiveram estáveis, sem aumentos expressivos.
O custo do grão de café não pesa tanto no preço de um cafezinho para os consumidores chineses. De acordo com a Sinolink Securities, no mercado chinês, o custo do grão de café constitui apenas uma pena parcial no preço de uma xícara de café. Por exemplo, no preço ao consumidor de um “Grande” do Starbucks, o aluguel, os custos de operação e o grão de café representam 26%, 15% e 4,2%, respectivamente.
As grandes redes de cafeteiras chinesas também estão buscando medidas para enfrentar a oscilação dos preços do café. Guo Jinyi, CEO do Luckin Coffee, disse em 21 de fevereiro em uma conferência para divulgar os resultados financeiros de 2024, que o aumento do preço do café verde deixa certa pressão na empresa em termos de custo, mas a escala e a eficiência da empresa podem cobrir o impacto até certo ponto. Guo prometeu a continuação da promoção comercial de um copo de café por 9,9 yuans (cerca de US$ 1,36) nas lojas do Luckin Coffee.
O Luckin Coffee é a maior rede de cafeteira na China, com 22.340 lojas até 31 de dezembro de 2024 em todo o país. No quarto trimestre de 2024, o Luckin Coffee conseguiu uma receita de 9,61 bilhões de yuans, um aumento de 36,1% em termos anuais, enquanto o Starbucks registrou uma receita de 5,4 bilhões de yuans na China.
Além disso, as grandes redes de cafeteira têm acordos de longo prazo com os produtores. Em novembro de 2024, o Luckin Coffee assinou com o Brasil um acordo de valor total de 10 bilhões de yuans para comprar 240 mil toneladas do café brasileiro até 2029. Essas parcerias de longo prazo com fornecedores brasileiros são utilizadas como instrumentos financeiros, como hedge, para proteger os custos e reduzir os riscos da volatilidade dos preços.
Por outro lado, para pequenas cafeteiras independentes, a pressão dos custos é mais evidente, mas diante da concorrência, ainda não podem repassar o aumento aos consumidores. Algumas lojas estão consumindo o estoque e observando as ações das grandes redes e outras estão procurando medidas para diminuir os custos. Segundo o dono de uma loja de cafeteira ONEWAY COFFEE na cidade de Xiamen, no sul da China, pode se procurar grãos mais baratos para diminuir o custo.
Zhu Danpeng, analista da indústria de alimentos na China, acredita que o impacto da volatilidade dos preços do café brasileiro pode ser uma oportunidade para o grão de café chinês, pois as cafeteiras podem comprar mais grãos nacionais. Ele assinalou que com anos de desenvolvimento, a indústria de café de Yunnan obteve avanços significativos em termos de escala, profissionalismo, regulamentação, recursos financeiros e marketing.
A Província de Yunnan, no sudoeste da China, é a principal região produtora de café do país, com produção anual de 143,4 mil toneladas em 2023, mais de 95% do total do país.
Contudo, no curto prazo, os preços de café para consumidores chineses continuam estáveis. De acordo com Jiang Han, pesquisador do think tank Pangoal, existe um atraso na chegada do impacto do aumento do preço do grão de café ao preço final ao consumidor. Ele acredita que no curto prazo os preços de café nas cafeteiras continuarão estáveis.