Enquanto os Estados Unidos impõem barreiras comerciais à carne bovina brasileira, outros mercados ganham força e relevância no cenário das exportações do setor. O destaque mais recente vem do México, que assumiu a segunda posição no ranking de compradores da carne brasileira, ultrapassando os EUA e se aproximando do protagonismo da China, principal destino do produto.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), as exportações de carne bovina do Brasil para o México saltaram de 3,1 mil toneladas, em janeiro, para 16,1 mil toneladas em junho — um crescimento de 420% em volume. Em valores, o avanço é igualmente expressivo: de US$ 15,5 milhões para US$ 89,3 milhões no mesmo período.
A movimentação mexicana ocorre justamente no momento em que o governo norte-americano, sob a gestão de Donald Trump, impôs uma tarifa extra de 50% sobre a carne bovina brasileira. A medida, aplicada no fim de julho, já tem impacto direto: cerca de 30 mil toneladas que seriam enviadas aos EUA ficaram retidas, inviabilizando a competitividade do produto no mercado norte-americano.
Em abril, antes do tarifaço, os Estados Unidos importaram 44,1 mil toneladas da carne brasileira, gerando US$ 229 milhões. Em junho, esse volume caiu para 13,4 mil toneladas e US$ 75,3 milhões — uma retração de 67%.
China segue firme como principal parceira
Enquanto os EUA recuam, a China mantém seu apetite robusto pela carne brasileira. Só em junho, o gigante asiático importou 134,4 mil toneladas do produto, com valor total de US$ 739,9 milhões. A alta, de 64% em relação a janeiro, reforça a liderança chinesa como maior compradora da proteína bovina brasileira — e sinaliza a estabilidade da relação comercial entre os dois países.
A demanda chinesa é vital para o setor pecuário nacional, que nos últimos anos investiu pesado em melhorias sanitárias e rastreabilidade para atender aos exigentes padrões do mercado asiático. A força desse vínculo é tamanha que, mesmo com oscilações pontuais causadas por questões sanitárias ou diplomáticas, a China segue sendo uma âncora de crescimento para os exportadores brasileiros.
Diversificação é trunfo do Brasil no cenário global
Para especialistas, o momento reforça a importância de uma estratégia de diversificação de mercados. Com os EUA temporariamente fora de cena, a expansão para mercados latino-americanos, asiáticos e africanos ganha ainda mais relevância. Além de México e China, países como Egito, Emirados Árabes e Chile também se consolidam como destinos promissores para a proteína brasileira.
Essa reconfiguração comercial pode beneficiar diretamente o Brasil em médio e longo prazo, reduzindo a dependência de um único mercado e ampliando a resiliência do setor às oscilações geopolíticas.
Brasil-China: parceria estratégica no agronegócio
O bom desempenho nas exportações para a China também reforça a relevância da relação Brasil-China no agronegócio. Em um cenário de tensões comerciais globais, a cooperação entre os dois países permanece sólida, com a China investindo em infraestrutura logística, acordos fitossanitários e tecnologias agrícolas no Brasil.
Além disso, a entrada do México como novo protagonista abre margem para uma maior articulação sul-sul no setor de alimentos, aproximando ainda mais os países latino-americanos das cadeias de fornecimento que abastecem a Ásia.
Com a demanda global em alta e a reputação consolidada como potência agroexportadora, o Brasil segue ganhando espaço. E, mesmo com os percalços diplomáticos com os Estados Unidos, a carne brasileira continua em destaque no prato do mundo.