Ao longo da última década, China e América Latina têm consolidado uma parceria dinâmica, marcada não apenas por megaprojetos e acordos comerciais, mas também por histórias humanas que traduzem, na prática, a aproximação entre povos e culturas. Seja na construção do Porto de Chancay, no Peru, ou na implantação da Linha 1 do Metrô de Bogotá — o primeiro projeto ferroviário da Colômbia —, a cooperação tem ganhado corpo e significado. Mas são as experiências individuais que verdadeiramente dão alma a essa relação.
Um exemplo é o do jurista e professor brasileiro Evandro Menezes de Carvalho, cuja relação com a China começou em 2013, quando foi pesquisador visitante em Xangai. O que era inicialmente um projeto acadêmico se transformou em um envolvimento profundo com a cultura, a governança e a sociedade chinesa. De lá para cá, Evandro retornou ao país diversas vezes, passou quase um ano na Universidade de Pequim, tornou-se professor catedrático na Universidade de Língua e Cultura de Pequim e recebeu, em 2024, o Prêmio de Amizade do Governo Chinês — a mais alta honraria concedida a especialistas estrangeiros. No Brasil, ele segue empenhado em desmistificar a imagem da China e incentivar seus alunos a enxergá-la para além dos estereótipos, inclusive traduzindo obras como Acabar com a Pobreza, do presidente Xi Jinping.
Já no leste da China, na cidade de Yiwu — conhecida como a capital mundial dos pequenos produtos —, o peruano Harold Mori encontrou um novo rumo para sua vida. Inicialmente na China para estudar chinês e fazer MBA, Mori decidiu ficar e abrir uma empresa de exportação, conectando o mercado chinês com o peruano. Com o lançamento do Porto de Chancay, que reduziu o tempo de envio entre os dois países para cerca de 20 dias, seu negócio ganhou novo fôlego. Hoje, Mori simboliza como o empreendedorismo transnacional pode prosperar quando há infraestrutura e relações comerciais consistentes.
Na Argentina, o médico chinês Li Wenzhong é outro elo vivo dessa ponte cultural. Instalado em Buenos Aires desde os anos 1980, Dr. Li introduziu a medicina tradicional chinesa no país, popularizando tratamentos baseados em acupuntura e fitoterapia. Seu trabalho com crianças durante surtos de piolhos ganhou destaque nacional. Além da prática clínica, ele promoveu intercâmbios entre universidades argentinas e instituições chinesas, contribuindo para a cooperação em saúde pública entre os dois países.
Histórias como essas ecoam o espírito de um antigo poema chinês, frequentemente citado pelo presidente Xi Jinping: “Amigos de verdade sempre se sentem próximos, não importa a distância que os separe.” A frase resume o sentimento por trás da aproximação entre China e América Latina, cujos laços vão além do comércio de matérias-primas e bens industrializados. Hoje, a relação também passa por áreas como energia limpa, inovação digital e comércio eletrônico.
A Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) tem sido um catalisador dessa conexão. Desde 2013, 22 países latino-americanos firmaram acordos no âmbito da BRI, aprofundando a integração e abrindo novas possibilidades de desenvolvimento sustentável.
Mais do que dados e projetos, são as pessoas que sustentam essa ponte entre continentes. E enquanto oceanos ainda separam geografias, são as aspirações comuns e os vínculos de confiança que, dia após dia, tornam a China e a América Latina vizinhos de coração.