Estados Unidos avaliam impacto do Pix em meio a novas tensões comerciais com o Brasil

Washington inclui sistema de pagamentos brasileiro entre pontos de disputa, ampliando tensão comercial e digital entre Brasil, China e Estados Unidos

(Foto: Reprodução / Rafael Henrique / SOPA Images / Getty Images)

O sistema de pagamentos instantâneos brasileiro, o Pix, tornou-se o mais novo alvo das pressões norte-americanas em meio à escalada de medidas comerciais contra o Brasil. Segundo informações publicadas nesta terça-feira (16) pela revista Veja, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos estaria conduzindo uma investigação para avaliar possíveis impactos do Pix no sistema financeiro internacional, especialmente em relação à interoperabilidade com carteiras digitais chinesas e a projetos ligados aos BRICS.

A movimentação ocorre no mesmo contexto em que o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros e abriu investigações comerciais contra o país. Agora, o foco se estende para o setor financeiro, com o Pix sendo descrito em Washington como uma “infraestrutura alternativa” que, na visão norte-americana, poderia enfraquecer a hegemonia do dólar no comércio internacional.

Pix como peça-chave no Sul Global

Lançado em 2020 pelo Banco Central do Brasil, o Pix se tornou rapidamente um dos sistemas de pagamento instantâneo mais avançados do mundo, com mais de 160 milhões de usuários e operações que superam volumes tradicionais de transferências bancárias. Sua expansão, além do mercado doméstico, também começou a atrair interesse internacional, com parcerias sendo discutidas com países como China, Índia e membros do BRICS para criar pontes de pagamentos mais rápidas e baratas entre economias emergentes.

De acordo com analistas ouvidos pela Agência Brasil China, esse movimento é justamente o que despertou o alerta dos EUA. “O Pix representa um símbolo da autonomia financeira do Brasil, mas também entra no debate global sobre moedas digitais, pagamentos internacionais e a chamada desdolarização”, afirma Ana Paula Oliveira, especialista em finanças internacionais da FGV.

Interesse da China e do BRICS

Fontes ligadas ao Ministério da Fazenda confirmaram que já existem conversas avançadas com autoridades chinesas para explorar a interoperabilidade entre o Pix e sistemas como o WeChat Pay e o Alipay, duas das maiores plataformas de pagamento digital da China. A iniciativa integraria um esforço mais amplo do BRICS para facilitar transações diretas entre moedas locais, sem necessidade de conversão prévia em dólar.

Na última Cúpula do BRICS, realizada no Rio de Janeiro, esse tema foi citado por representantes de Brasil e China como uma das prioridades para os próximos anos. O projeto inclui, além do Pix, discussões sobre moedas digitais de bancos centrais (CBDCs), especialmente com o real digital e o yuan digital.

Resposta do governo brasileiro

O Banco Central do Brasil divulgou nota afirmando que o Pix foi criado exclusivamente para uso doméstico e que não há, até o momento, regulamentação específica para operações internacionais. No entanto, o órgão admite que o interesse de outros países, incluindo China e Índia, é crescente e está sendo analisado em conjunto com o Ministério da Fazenda.

A equipe econômica do governo brasileiro reforçou que não considera o Pix como uma ameaça ao sistema financeiro global, mas sim como uma inovação alinhada com padrões internacionais de segurança e transparência. A postura é de buscar diálogo com os EUA para evitar que essa questão se transforme em mais um ponto de atrito nas relações bilaterais.

Impacto para o setor privado

Para o setor financeiro e tecnológico brasileiro, a notícia gerou preocupação. Empresas de tecnologia de pagamentos, fintechs e bancos digitais que já operam com Pix estudam os possíveis impactos de uma pressão norte-americana que possa, por exemplo, restringir o uso de gateways internacionais conectados ao sistema brasileiro.

“Se os EUA começarem a impor regras extraterritoriais sobre o Pix, isso pode atrapalhar acordos comerciais, especialmente com empresas chinesas”, explica Rafael Ferri, consultor do setor de fintechs.

Perspectiva para as relações Brasil-China-EUA

Para analistas de comércio internacional, o episódio ilustra como a disputa entre EUA e China vem afetando diretamente países como o Brasil. De um lado, Washington tenta conter o avanço de soluções financeiras alternativas; de outro, Brasil e China buscam aprofundar sua cooperação justamente em setores como tecnologia, finanças e infraestrutura.

A Agência Brasil China continuará monitorando o tema e trará atualizações sobre possíveis sanções, respostas diplomáticas e o impacto dessa nova fase da disputa comercial para o mercado financeiro brasileiro e para as relações Brasil-China.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui