O ministro impede o reinício dos casos que apuram doações espúrias da Odebrecht ao Instituto Lula. Ele interrompe o curso da investigação sobre a compra de um terreno para a sede do instituto e de um apartamento em São Bernardo do Campo.
Vale a pena atrasar o relógio em 14 anos para entender o contexto. Em agosto de 2007, quando a denúncia da Procuradoria no caso do mensalão foi convertida em ação penal pelo Supremo, Lewandowski atuava como ministro revisor do relator Joaquim Barbosa, de quem divergiu bastante.
Terminada a sessão, Lewandowski foi jantar com amigos num restaurante de Brasília. Em dado momento, levantou da mesa para atender ao celular. Era o irmão, Marcelo Lewandowski.
Para azar do ministro, a repórter Vera Magalhães, acomodada em mesa próxima, ouviu a conversa, que virou notícia na Folha. Lewandowski disse: “A imprensa acuou o Supremo. […] Todo mundo votou com a faca no pescoço.” Ele acrescentou: “A tendência era amaciar para o [José] Dirceu”.
Lewandowski não parecia preocupado com a má repercussão: “Para mim não ficou tão mal, todo mundo sabe que eu sou independente.” Deu a entender que, não fosse pela “faca no pescoço”, poderia ter divergido muito mais do relator Barbosa: “Não tenha dúvida. Eu estava tinindo nos cascos.”
Os comentários de Lewandowski geraram grande repercussão na época. Agora, a decisão de enterrar processos de Lula por razões processuais, sem julgamento do mérito das acusações, demonstra que o ministro Lewandowski talvez continue “tinindo nos cascos.”