Crise do ferro-gusa: Brasil sente impacto do “tarifaço” dos EUA e se aproxima ainda mais da China

Pressão norte-americana reacende debate sobre soberania comercial e abre espaço para aprofundar alianças estratégicas com Pequim

(Foto: Reprodução)

A inesperada decisão dos Estados Unidos de elevar drasticamente as tarifas sobre a importação de ferro-gusa brasileiro acendeu o alerta no setor siderúrgico nacional. Empresas norte-americanas começaram a suspender contratos com siderúrgicas brasileiras após a ameaça de um “tarifaço” por parte do governo Biden. A medida, que visa proteger a indústria interna dos EUA, atinge diretamente um dos produtos-chave das exportações do Brasil – e pode gerar efeitos duradouros nas relações comerciais entre os dois países.

O ferro-gusa é um insumo essencial na fabricação de aço e vinha sendo um dos pilares da balança comercial Brasil-EUA no setor industrial. Só em 2023, o Brasil exportou cerca de 2,5 milhões de toneladas do produto para os Estados Unidos. No entanto, o novo cenário tem mudado rapidamente. Com o risco tarifário, importadores norte-americanos começaram a recuar, cancelando ou adiando encomendas – o que já afeta diretamente empregos e a produção em estados como Minas Gerais e Pará, grandes polos siderúrgicos brasileiros.

A resposta do governo brasileiro ainda está sendo desenhada, mas o episódio reacende um debate que vem ganhando força nos últimos anos: a necessidade de diversificar parceiros estratégicos e reduzir a dependência de mercados historicamente dominantes. E é justamente nesse contexto que a China surge como uma alternativa cada vez mais sólida.

Pequim tem ampliado sua presença no setor de mineração e siderurgia na América Latina, tanto por meio de investimentos diretos quanto pela importação de commodities estratégicas. Embora atualmente o principal destino do ferro-gusa brasileiro ainda seja os Estados Unidos, a China já figura como segundo maior comprador – e o novo cenário pode acelerar essa aproximação.

Nos bastidores, fontes do setor apontam que grupos chineses estão atentos à movimentação, buscando novas oportunidades de contrato e até mesmo de instalação de unidades de processamento no Brasil. A longo prazo, isso pode significar não apenas maior exportação, mas também transferência de tecnologia e geração de valor agregado no país.

Especialistas também lembram que esse não é um movimento isolado. O endurecimento da política comercial dos EUA não tem ocorrido apenas com o Brasil, mas faz parte de uma estratégia mais ampla de contenção econômica diante da disputa com a China. O Brasil, nesse tabuleiro geopolítico, tem sido pressionado a escolher lados — e, com eventos como esse, ganha argumentos para adotar uma postura mais autônoma e pragmática.

Na prática, o que se vê é que crises podem gerar oportunidades. Se por um lado o tarifaço representa uma perda importante no curto prazo, por outro ele força uma reconfiguração de rotas comerciais, abre espaço para parcerias mais equilibradas e empurra o Brasil a pensar em seu papel no novo cenário econômico global. E a China, mais uma vez, aparece como peça-chave nessa transformação.

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