O governo da China começou a recrutar jovens para integrar uma força de defesa planetária depois que as avaliações de risco cresceram com relação à possibilidade de um asteroide atingir a Terra em 2032.
Autoridades chinesas abriram a contratação de jovens graduados nas áreas de engenharia aeroespacial, cooperação internacional e detecção de asteroides depois que analistas aumentaram sua avaliação das probabilidades de colisão do asteroide 2024 YR4.
Embora ainda baixa, a avaliação dessa probabilidade subiu de 1,4% em 27 de dezembro, quando esse fragmento estelar foi observado pela primeira vez, para 2,2% na semana passada.
Com 100 metros de largura, o asteroide acionou os procedimentos globais de defesa planetária desde que foi observado por um telescópio automatizado localizado no Chile.
Desde então, o 2024YR4 está no topo da lista de risco de impacto das agências espaciais europeias e dos Estados Unidos, com classificação três na Escala de Risco de Impacto de Torino. A escala vai do risco zero a dez, quando a colisão é certa e representa uma ameaça ao futuro da civilização.
Só um asteroide teve classificação de risco mais alta
Apenas um outro asteroide, o Apophis, recebeu classificação mais alta (quatro) e ganhou as manchetes em 2004. Mas sua avaliação de risco foi sendo rebaixada à medida que eram feitas novas observações até mostrarem que não havia perigo algum.
No caso do 2024 YR4, as observações estão aumentando as previsões de riscos.
Apesar disso, na remota hipótese de que chocasse com a Terra, o 2024 YR4 não tem dimensões capazes de produzir catástrofes planetárias como a extinção em massa que eliminou os dinossauros. Estima-se que aquele asteroide tinha entre 10 e 15 quilômetros de largura.
Mas rochas espaciais de 100 metros de largura, como o 2024 YR4, que caem na Terra a cada poucos milhares de anos, têm potencial para borrar uma cidade do mapa.
Por isso, a descoberta do asteroide ativou dois grupos globais de respostas endossados pelas Nações Unidas. O Grupo Consultivo de Planejamento de Missão Espacial da ONU, composto por países com programas espaciais, tem se reunido regularmente para discutir possíveis respostas.
“A melhor coisa a fazer é continuar rastreando o asteroide pelo maior tempo possível para que possamos prever sua trajetória com mais confiança”, diz Gareth Collins, professor de ciência planetária do Imperial College London ao jornal britânico The Guardian.
Desviar a trajetória é a chave
O problema é que a trajetória do 2024 YR4 nesse momento está afastando esse fragmento cósmico da Terra e ele deixará de ser visível em alguns meses e só voltará a aparecer em 2028.
Desviar um asteroide como o 2024 YR4 parece ser um foco de destaque no programa aeroespacial da China, que planeja replicar o Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo, feito pela Nasa em 2020. Nessa ocasião, a Nasa conseguiu, pela primeira vez, desviar a trajetória do asteroide Dimorpohos, de 160 metros de comprimento.
A China prevê fazer seu próprio teste, em 2027, desviando um asteroide menor, o 2015 XF. Mas alguns cientistas, porém, questionam a prova porque acreditam que, com um fragmento cósmico tão pequeno, há o risco dele explodir em vez de desviar. Isso transformaria um único projétil, com trajetória conhecida para várias trajetórias.
O anúncio online esta semana de vagas na Administração Estatal de Ciência, Tecnologia e Indústria para a Defesa Nacional da China não faz nenhuma referência ao asteroide que está sendo monitorado, mas sua publicação coincide com o incremento das avaliações de risco dele.
Cooperação internacional é o foco
A agência chinesa abriu 16 vagas, três delas para a nova “força de defesa planetária”. Eles buscam recém formados com menos de 35 anos, com especialização em astrofísica, tecnologia de exploração da Terra e do espaço e ciência e tecnologia aeroespacial.
As descrições das funções indicavam que a força será muito focada na cooperação internacional e no design de tecnologias novas experimentais. Os empregos anunciados para a força de defesa planetária são descritos como “pesquisa sobre monitoramento e alerta precoce de asteroides próximos à Terra”.
Os anúncios geraram uma ampla discussão online entre jovens, grupo que teve taxas recorde de desemprego em 2023. Um questionava se a responsabilidade de salvar a Terra não seria muito estressante. Outro achava o trabalho ótimo: “se tiver sucesso será um herói, mas se falhar ninguém irá puni-lo porque não sobrará ninguém”.
De qualquer forma, os cientistas não estão preocupados. “Sabemos que temos capacidade de desviar um asteroide como este, foi demonstrado já. Então não precisamos temer esse asteroide, só estudá-lo e compreendê-lo”, diz Harrison Agrusa, cientista planetário do Observatoire de la Côte d’Azur.