Pela primeira vez desde novembro de 2018, a China encerrou um mês sem importar soja dos Estados Unidos. Segundo dados divulgados nesta segunda-feira (20) pela Administração Geral de Alfândega da China, nenhum embarque de soja americana foi registrado em setembro, marcando uma nova fase da disputa comercial entre as duas maiores economias do mundo.
Em contraste, as importações provenientes da América do Sul cresceram expressivamente, com o Brasil e a Argentina ampliando sua presença no mercado chinês. No total, as compras chinesas de soja atingiram 12,87 milhões de toneladas métricas, o segundo maior volume mensal já registrado no país.
De acordo com o analista Wan Chengzhi, da Capital Jingdu Futures, a interrupção das importações norte-americanas decorre principalmente das altas tarifas impostas pela China sobre os produtos dos EUA, além do fato de que os estoques remanescentes da safra anterior americana já foram comercializados. “Em um ano normal, alguns grãos de safra antiga ainda entrariam no mercado”, observou.
Os números reforçam a mudança no eixo comercial: as chegadas do Brasil cresceram 29,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, somando 10,96 milhões de toneladas, o equivalente a 85,2% das importações totais da oleaginosa pela China. Já a Argentina ampliou seus embarques em 91,5%, alcançando 1,17 milhão de toneladas, ou 9% do total.
Apesar de o volume acumulado de importações americanas no ano ainda mostrar crescimento — 16,8 milhões de toneladas, alta de 15,5% em relação a 2024 —, os novos contratos da safra de outono dos EUA estão praticamente paralisados. Especialistas afirmam que a janela para novas compras está se fechando rapidamente, já que as tradings chinesas priorizam embarques do Brasil e da Argentina até novembro.
Para os agricultores norte-americanos, o cenário representa risco de prejuízos bilionários, caso as negociações comerciais entre Pequim e Washington não avancem. “Se não houver acordo, os esmagadores chineses continuarão a se abastecer na América do Sul”, afirmou Johnny Xiang, fundador da consultoria AgRadar, sediada em Pequim.
No entanto, o analista alerta para um possível desequilíbrio temporário na oferta. “Pode haver uma lacuna no fornecimento de soja entre fevereiro e abril do próximo ano, antes da chegada da nova safra brasileira. O Brasil já embarcou volumes enormes, e ninguém sabe quanto estoque de safras antigas ainda resta”, destacou.
Apesar das tensões, os sinais de reaproximação comercial começaram a surgir. O presidente norte-americano Donald Trump afirmou no domingo acreditar que um acordo sobre soja pode ser alcançado. Ainda assim, os dados revelam que a dependência chinesa das origens sul-americanas se consolida, fortalecendo o papel do Brasil e da Argentina como principais fornecedores da oleaginosa mais estratégica do planeta.