China e EUA iniciam cooperação para enfrentar tráfico de fentanil

Autoridades das duas potências se reúnem em Pequim para avançar na contenção do fluxo de opioides sintéticos para os EUA, que vivencia grave epidemia de mortes pelo uso desse tipo de substância

(Foto: Xinhua/Wang Ye)

Autoridades chinesas e estadunidenses se reuniram nesta terça-feira (30), em Pequim, capital nacional da China, para discutir esforços conjuntos no combate ao fluxo de fentanil para os EUA, um sinal de cooperação em meio a tentativas de gerenciar seus laços controversos.

O presidente chinês, Xi Jinping, concordou em reiniciar a cooperação em várias áreas, incluindo o combate ao tráfico de drogas, quando se encontrou com Joe Biden nos arredores de São Francisco, na Califórnia (EUA) em novembro passado.

Este encontro de dois dias em Pequim prossegue até quarta-feira (31) e marca a primeira reunião de um novo grupo de trabalho antinarcóticos. Um dos principais temas abordados foi o fentanil, um opioide sintético devastador nos EUA, especialmente os ingredientes do medicamento produzidos na China.

O conselheiro de Estado e ministro da Segurança Pública da China, Wang Xiaohong, reuniu-se com a vice-assistente do presidente dos EUA e a vice-conselheira de segurança interna, Jen Daskal, e uma delegação da equipe antinarcóticos dos EUA. Os dois lados anunciaram a inauguração do Grupo de Trabalho Antinarcóticos China-EUA em Pequim.

O ministro da Segurança Pública da China, Wang Xiaohong, afirmou que ambos os lados tiveram conversas profundas e práticas.

“Chegamos a um entendimento comum sobre o plano de trabalho do grupo”, disse ele em uma cerimônia que marcou a inauguração do grupo.

Daskal comentou que Biden enviou uma delegação de alto nível “para enfatizar a importância desta questão para o povo dos EUA”. Washington deseja que Pequim intensifique o controle sobre a exportação de produtos químicos que, segundo eles, são transformados em fentanil, principalmente no México, antes de serem contrabandeados para os Estados Unidos.

Retomada dos diálogos

A retomada das negociações entre China e os EUA sobre a contenção conjunta da produção de ingredientes para o medicamento fentanil indica uma mudança de abordagem de Washington sobre a questão. Ao invés de culpar Pequim pela grave epidemia doméstica de opioides, a administração Biden passou a adotar o caminho do diálogo e da cooperação. 

As negociações foram formalmente congeladas em 2022, quando a China suspendeu a cooperação em várias áreas, incluindo narcóticos, para protestar contra uma visita a Taiwan da então presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi.

O gelo começou a derreter antes da reunião Biden-Xi em novembro de 2023. Uma delegação do Senado dos EUA abordou a questão do fentanil numa visita a Pequim em outubro e disse que as autoridades chinesas expressaram simpatia pelas vítimas da crise dos opiáceos nos EUA.

Nesta terça-feira (30), o porta-voz Wang Wenbin, do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, similar ao Ministério das Relações Exteriores, durante coletiva de imprensa, relembrou que o chanceler chinês, Wang Yi, se reuniu com o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, na semana passada. Ambos concordaram e iniciar o grupo de trabalho de cooperação antinarcóticos China-EUA. 

“Esperamos que o lado dos EUA mostre sinceridade, trabalhe com a China na mesma direção e continue a realizar uma cooperação prática no combate ao narcotráfico baseada no respeito mútuo, na igualdade e no benefício mútuo”, observou o porta-voz.

Recuo em sanções dos EUA contra a China

Para retomar as conversas sobre cooperação, a China exigiu que os EUA suspendessem sanções ao Instituto de Ciência Forense do Ministério da Segurança Pública.

O Departamento de Comércio impôs sanções em 2020, acusando o instituto de cumplicidade em violações de direitos humanos contra uigures e outros grupos étnicos predominantemente muçulmanos na região chinesa de Xinjiang. A China nega as alegações.

Os EUA concordaram em suspender as sanções para obter cooperação no combate ao fentanil. O chanceler Wang reconheceu “a remoção do obstáculo das sanções unilaterais” em um discurso sobre as relações China-EUA no início deste mês.

Em outubro de 2023, a administração Biden anunciou uma série de acusações e sanções contra empresas e executivos chineses acusados de importar os produtos químicos utilizados para fabricar o medicamento. No mês seguinte, Washington suspendeu as sanções.

Epidemia de opioides nos EUA e as eleições

Os opioides sintéticos, entre eles o fentanil, são os principais causadores da crise de drogas mais mortal já vista nos EUA. Mais de 100 mil mortes foram associadas a overdoses de drogas em 2022, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), agência federal estadunidense, com mais de dois terços envolvendo fentanil ou drogas sintéticas similares.

Nesse cenário, tem havido uma pressão crescente sobre o presidente dos EUA, Joe Biden, para que tome medidas para conter a crise, e a questão tornou-se um tema quente para as eleições presidenciais dos EUA em 2024. 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui