Café brasileiro cai no gosto do (jovem) chinês; potencial do setor é enorme, afirmam especialistas

Um dos produtos milenares mais consumidos na China, o chá tem perdido espaço, nas últimas duas décadas, para o café, graças a mudanças de hábitos e paladar da população.

(Foto: Agência Brasil / Marcelo Camargo)

E essas mudanças trazem chances únicas para o mercado exportador do café brasileiro, afirmam especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.

Dados da Organização Internacional do Café apontam que nos últimos 20 anos o consumo desse tipo de grão pelo gigante asiático cresceu mais de 12 vezes. Em 2002, a China consumiu 231 mil sacas de 60 kg de café. Em 2022, esse número passou para 2,8 milhões.

“Isso traz enormes oportunidades para investimentos no país, pois é um mercado ainda a ser explorado. Os investimentos ocidentais e a influência da cultura ocidental, principalmente em um público mais jovem, tem sido uma grande alavanca de sucesso para inserir a cultura do café no país”, disse o diretor e proprietário da Tauruz, empresa de exportação de cafés, e conselheiro na Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês), Ubion Terra.

As redes de cafeterias têm se expandido em número recorde no país. De acordo com o diretor-executivo da BSCA, Vinicius Estrela, isso deve-se principalmente à juventude chinesa, e ele destaca que esse grupo é exigente em relação à qualidade e à sustentabilidade:

“Nesse contexto, os cafés especiais brasileiros são uma excelente oportunidade para o Brasil, pois oferecem excelente performance de bebida e também são produzidos sob as mais rigorosas práticas de sustentabilidade”, comentou.

Terra frisou que apesar do crescimento muito significativo nos últimos anos do café na China, no Brasil, que tem uma população de 215 milhões de habitantes, cerca de 16% da chinesa, o consumo é de cerca de 22 milhões de sacas. Nos EUA, maior consumidor mundial, são 27,7 milhões. “Ou seja, o potencial de crescimento na China é enorme”, levantou ele.

Para o especialista, o incremento das exportações de café para a China tem horizonte de longo prazo, pois “a curva de conhecimento e a mudança de hábito é algo geracional”.

Para alavancar esse consumo, o desafio, segundo Estrela, é apresentar o potencial da bebida produzida com os cafés especiais, “que ainda são pouco conhecidos pelo importador chinês, assim como pelo consumidor”.

Por outro lado, parcerias bilaterais entre o governo brasileiro e o chinês são fundamentais para o setor, bem como investimentos em marketing sobre as qualidades do produto nacional para agregar valor:

“Quando estive no país, há sete anos, o mercado ainda estava muito incipiente. A colocação do café já era um desafio, e na época nossa missão era a introdução dos cafés especiais no país. Hoje esse ainda é um nicho muito pequeno e, por consequência, com muitas oportunidades”, comentou Terra.

Desafios para a expansão do consumo de café brasileiro na China

Já segundo o diretor-executivo da BSCA, para promover o café do Brasil é vital intensificar as ações de provas técnicas de cafés, incentivar a vinda de compradores chineses e investir no e-commerce.

Os desafios da logística e dos entraves burocráticos ainda são decisivos para a expansão desse comércio, segundo Estrela, “pois somente a promoção do café brasileiro, baseada em atributos de volume, é insuficiente para criar o diferencial competitivo para o aumento da presença brasileira nesse mercado”, pontuou ele.

“O escoamento da produção brasileira na solução logística atual não nos favorece, considerando a maior proximidade com a China de outras origens do próprio Sudeste Asiático ou mesmo da África”, considerou.

O diretor-executivo da BSCA citou iniciativas que têm investido nessa promoção, como o projeto “Brasil. A Nação do Café”, fruto de parceria entre o governo federal, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e a BSCA, e uma da Embaixada do Brasil na China, da ApexBrasil, do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) e da BSCA, que tem promovido o café brasileiro no mercado chinês:

“Neste ano recebemos várias delegações de compradores chineses e também realizamos uma prova de café do [concurso] Cup of Excellence para os principais importadores e redes de cafeteria na China. A qualidade do café brasileiro os surpreendeu a ponto de compradores chineses arrematarem lotes no concorrido leilão internacional do Cup of Excellence”, contou o empresário.

No entanto, a ampliação da presença brasileira em um mercado tão competitivo exige ainda mais investimentos, completou ele.

Terra acrescentou que os cafés solúveis representam grande parte do consumo no país, devido à forma de preparo mais simplificada, que dispensa equipamentos:

“Para que os volumes de importação cresçam, é fundamental desenvolvermos a cultura do café como vemos na cultura ocidental, com preparos de café coado, expressos etc., pois esses preparos exigem o uso da espécie arábica, que responde pela maior parcela de produção e exportação do país”, ponderou o diretor da Tauruz.

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