Este ano a China preside a 14ª Cúpula do BRICS, mecanismo que tem grande importância no cenário econômico mundial. O Diário do Povo Online entrevistou com exclusividade o professor e economista Marcio Pochmann, que em março deste ano foi eleito pelo Índice Científico Alper-Doger (AD-2022) como um dos quatro principais economistas do Brasil e 11º na América Latina.
Lembrando que a criação do mecanismo se deu em 2009 quando se enfrentava uma crise financeira de grande proporção, Pochmann, que também é o presidente do Instituto Lula, disse que a ação dos países do BRICS proporcionou apoio mútuo no enfrentamento do problema financeiro de impacto mundial.
Após 13 anos, o mundo vê uma ordem internacional anacrônica à que emergiu da Guerra Fria em 1991, observa Marcio, acrescentando que conflitos na Europa, a saída da Inglaterra, e a invasão do Congresso americano durante a transição do governo Trump para o governo Biden são problemas que a ordem internacional previamente estabelecida já não oferece respostas adequadas.
“Foram poucas experiências que conseguiram de certa maneira superar a visão interna e oferecer um horizonte de cooperação mais amplo para outros países”, disse Marcio, acrescentando que o papel do BRICS vai além de olhar para o conjunto de países e seus problemas, é “ter um olhar mais amplo para o mundo”, defendeu ele.
O economista destacou a Iniciativa do Cinturão e Rota da China, como uma experiência positiva para a reorganização dos países, com ampliação da estrutura, do comércio, da integração e da conexão do mundo.
Lembrando que o movimento do BRICS visava construir, internamente entre os países, regras de comércio para o financiamento do banco do BRICS, Pochmann acredita que a experiência de cooperação e regulação pode ser ampliada, com um olhar voltado para o contexto internacional, amplamente vinculado ao conhecimento, à internet e ao progresso tecnológico.
Pochmann explicou que a maioria das instituições estão localizadas no Ocidente, no entanto, o Oriente é atualmente o polo mais dinâmico. Ele defendeu a importância da criação de uma instituição voltada para problemas como mudanças climáticas e a pandemia da Covid-19, que precisam da coordenação do mundo.
Nesse contexto, lhe parece apropriado utilizar a experiência original dos BRICS, como alternativa e fortalecimento dos países no enfrentamento e superação de problemas complexos.
O BRICS+, proposta apresentada pela Cúpula do BRICS realizada em Xiamen em 2017, é uma forma do grupo reconhecer a necessidade de envolver outros países no organismo de cooperação.
O economista avalia que a experiência ocidental de cooperação a partir dos países mais ricos, com o grupo G7, que posteriormente avançou para G20, não tem oferecido resultados adequados.
Uma ampliação gradual do BRICS é a oportunidade de construir uma “nova ordem internacional com bases diferentes”, disse ele.
O economista afirmou que, embora cada um dos países do BRICS tenha as suas especificidades mesmo diante de questões comuns, como a pandemia, há a necessidade comum de retomar o crescimento econômico.
“Infelizmente, a partir da pandemia, as economias perderam a vitalidade, nesse sentido é alvissareiro poder fazer uma reunião do BRICS que possa recolocar a perspectiva dos BRICS ao longo desta década de 2020”, disse ele sobre sua expectativa para a 14ª Cúpula do BRICS, que se aproxima.
Antevendo maiores avanços tecnológicos, o economista afirmou que estamos entrando na segunda fase da era digital, chamada de metaverso. Essa nova década, segundo ele, é a chave para o novo mundo em construção, e, portanto, é papel fundamental do BRICS, além de responder às questões imediatas emergenciais, trabalhar no planejamento das novas circunstâncias que começam a surgir diante nós.