BRICS Pay: Pix brasileiro inspira novo sistema que desafia hegemonia do dólar

Plataforma conecta Brasil, China e parceiros do bloco em uma rede financeira global mais independente e multipolar

(Foto: Reprodução / joxxxxjo / istock)

O BRICS Pay, lançado oficialmente em agosto durante a cúpula do bloco em Kazan, Rússia, promete transformar o comércio internacional. Inspirado no Pix brasileiro, o sistema permitirá transações rápidas, seguras e de baixo custo em moedas locais, reduzindo a dependência do dólar em um momento em que tensões geopolíticas e sanções econômicas pressionam países como China e Rússia.

Representando 45% da população mundial e 35% do PIB global, o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e novos membros como Irã, Egito e Indonésia) aposta no BRICS Pay como uma alternativa moderna ao sistema SWIFT, controlado pelo Ocidente. A tecnologia blockchain, usada como base, garante descentralização, segurança e capacidade de processar até 20 mil transações por segundo.

O Brasil no centro da inovação

O protagonismo brasileiro nesse projeto é evidente. Com o Pix consolidado como um dos sistemas de pagamento mais eficientes do mundo — responsável por movimentar R$ 7 trilhões só no primeiro trimestre de 2025 —, o país se tornou referência global em soluções financeiras digitais. Agora, o Pix serve de modelo para o BRICS Pay, oferecendo a agilidade e o baixo custo necessários para o comércio internacional.

Durante o lançamento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou que a plataforma é um passo estratégico para a soberania econômica do bloco. O Brasil, que assumirá a presidência rotativa do BRICS em 2026, deve liderar a harmonização entre os diferentes sistemas nacionais, além de integrar o Drex, o real digital, à rede internacional.

Mais do que tecnologia: soberania

A adesão ao BRICS Pay tem efeitos práticos para o Brasil. Exportadores de carne, soja e minério, por exemplo, poderão negociar diretamente em yuan ou rúpias, sem necessidade de conversão para o dólar. Isso reduz custos cambiais e amplia a competitividade, especialmente em mercados como Emirados Árabes e Irã, que já sinalizaram interesse em expandir compras.

Além disso, a plataforma reforça a parceria com a China, maior cliente do agronegócio brasileiro. O comércio bilateral tende a ganhar mais fluidez, fortalecendo o papel do Brasil como fornecedor estratégico em um cenário de disputa comercial entre Washington e Pequim.

Reações globais

Enquanto países do Sul Global celebram a iniciativa como um marco de autonomia financeira, os Estados Unidos veem o BRICS Pay como ameaça direta à supremacia do dólar, que ainda domina 84% das transações mundiais. O ex-presidente Donald Trump chegou a cogitar tarifas de até 100% contra países que abandonarem a moeda americana.

Economistas, no entanto, destacam que a iniciativa não é apenas um movimento político, mas uma resposta prática às necessidades de integração econômica. Sergey Glazyev, conselheiro russo, afirma que o BRICS Pay pode “redesenhar as regras do jogo no comércio internacional até 2030”.

O futuro da plataforma

O grande desafio agora é garantir a integração entre diferentes sistemas nacionais. Além do Pix, o BRICS Pay conectará o SBP russo, o UPI indiano e o IBPS chinês. O Brasil deve ter papel fundamental nessa transição, já que sua experiência com o Pix serve como “manual” para superar barreiras técnicas e regulatórias.

Se alcançar o potencial previsto, o BRICS Pay poderá movimentar centenas de bilhões de dólares por ano até o fim da década. Para o Brasil, a plataforma não só fortalece o vínculo com a China e os parceiros do bloco, como também posiciona o país como líder de uma transformação histórica rumo a um sistema financeiro global mais inclusivo, independente e multipolar.

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