Milhares de brasileiros que participaram do projeto Worldcoin, que coleta a íris humana como forma de identificação biométrica, têm enfrentado dificuldades para acessar os valores prometidos após o escaneamento. A iniciativa, que se expandiu pelas periferias de São Paulo nos últimos meses, utiliza a biometria ocular como uma “impressão digital” avançada e oferece uma quantia em criptomoedas aos participantes. No entanto, muitos deles relatam problemas com o aplicativo de suporte e dificuldades para recuperar o dinheiro. As informações são do g1.
A principal queixa dos usuários está relacionada ao World App, ferramenta necessária para o cadastro e armazenamento das criptomoedas recebidas. Muitos relatam que o suporte prestado pelo aplicativo é ineficaz e que, em alguns casos, contas foram bloqueadas sem explicação.
“Tentei entrar em contato pelo chat do app várias vezes e o problema não foi resolvido. Então, decidi vir aqui na loja. Aí me disseram que talvez eu tenha sido banida por alguma atividade suspeita. Mas que atividade? Não sei, e não deixei ninguém mexer no celular. Perdi a conta e o dinheiro”, relata Vivian Caramaschi, de 48 anos.
O projeto Worldcoin oferecia 20 unidades da criptomoeda após 24 horas do escaneamento da íris e outras 28 moedas seriam distribuídas ao longo de um ano. Os participantes podiam vender essas moedas e convertê-las em reais, o que servia como incentivo para expandir a base de usuários.
Contudo, na última terça-feira (11), a empresa decidiu suspender novos cadastros no Brasil após a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) negar um recurso da companhia e proibir a remuneração por meio da coleta da biometria ocular. A decisão foi tomada devido a preocupações com a privacidade dos dados dos participantes.
Antes da proibição, a reportagem visitou diversos pontos de coleta de íris em São Paulo. Durante as visitas, observou muitas pessoas buscando suporte para acessar o saldo, corrigir erros no aplicativo e tentar reaver transferências feitas para contas erradas. Alguns demonstravam frustração com a falta de atendimento adequado.
A advogada especialista em direito digital Patrícia Peck alertou que o World App não está totalmente traduzido para o português, apresentando trechos em inglês e espanhol, o que dificulta a compreensão por parte dos usuários. Outro caso semelhante ao de Vivian é o de Marilis Casco Morales, de 24 anos. Ela fez o escaneamento da íris em dezembro de 2024 e deveria ter recebido a primeira parcela, equivalente a R$ 296,81. No entanto, teve dificuldades para acessar sua conta.
“Desinstalei o aplicativo e baixei novamente. Na hora de digitar a senha, o app diz que está errada”, explica Marilis.
Advogados especialistas em direito do consumidor apontam que as práticas da Worldcoin podem violar direitos básicos dos participantes, permitindo a possibilidade de ações judiciais contra a Tools for Humanity, empresa responsável pela operação da plataforma. Uma das opções seria solicitar que um juiz declare inválido o contrato firmado entre a empresa e os usuários.
Procurada, a Worldcoin afirmou que não tem como quantificar o número de pessoas afetadas pelos problemas, já que todo o processo é anônimo. A empresa também esclareceu que seus funcionários são treinados apenas para explicar a tecnologia e realizar o escaneamento da íris, mas não possuem capacitação para resolver questões relacionadas ao aplicativo e aos pagamentos.
Enquanto isso, muitos brasileiros seguem sem acesso ao dinheiro prometido e enfrentam dificuldades para obter respostas sobre os problemas em suas contas.