Brasil investe em centro de RNA mensageiro e acena para parcerias globais em inovação em saúde

Nova iniciativa fortalece soberania tecnológica e abre caminho para cooperação com países como a China na produção de vacinas e medicamentos de última geração

(Foto: Reprodução)

O Brasil acaba de dar um passo estratégico rumo à sua autonomia científica e tecnológica na área da saúde. O governo federal anunciou, na última sexta-feira (26), a criação do primeiro Centro de Competência em Tecnologias de RNA Mensageiro (mRNA) do país, com um investimento inicial de R$ 60 milhões — parte de um pacote maior de R$ 450 milhões (equivalente a US$ 82 milhões). A proposta é clara: tornar o país menos dependente de insumos estrangeiros e mais capaz de desenvolver suas próprias vacinas e terapias avançadas.

A cerimônia de lançamento aconteceu durante o evento “Saúde Estratégica Brasil-Américas”, organizado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), e contou com a presença da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, e do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Ambos reforçaram que o investimento tem caráter estratégico, soberano e estruturante — especialmente após a pandemia de COVID-19, que escancarou a fragilidade das cadeias globais de insumos e a urgência de fortalecer os sistemas públicos de saúde.

A tecnologia de RNA mensageiro, que ganhou notoriedade durante a pandemia por ser usada nas vacinas da Pfizer e Moderna, permite desenvolver imunizantes com rapidez e precisão, além de abrir caminho para tratamentos inovadores contra doenças como câncer, HIV, zika e dengue. O novo centro brasileiro pretende dominar essas plataformas, formar profissionais altamente capacitados e estabelecer redes com universidades, startups e institutos de pesquisa dentro e fora do país.

É nesse ponto que a cooperação internacional entra em cena — especialmente com países que já dominam ou investem fortemente em biotecnologia, como a China. O país asiático foi pioneiro na produção de vacinas com RNA e vírus inativado e já atua em frentes de pesquisa de segunda geração, incluindo vacinas inaláveis, terapias genéticas e plataformas combinadas. A experiência chinesa, inclusive, tem sido compartilhada com países do Sul Global por meio de acordos bilaterais e projetos coordenados com a OMS.

Nesse contexto, uma aproximação técnico-científica entre Brasil e China no campo biomédico é mais do que natural — é necessária. Os dois países compartilham ambições semelhantes: fortalecer seus sistemas públicos, reduzir a dependência de tecnologias importadas e se tornar referências em inovação acessível. A Embrapii, entidade que executará o projeto brasileiro, já possui acordos de cooperação com instituições estrangeiras, o que abre espaço para uma nova fase de intercâmbio com universidades e empresas chinesas.

Além do novo centro, o Brasil está ampliando sua capacidade de produção de vacinas com plataformas de RNA no Instituto Butantan e na Fiocruz. A ideia é criar um ecossistema completo de inovação em saúde, onde ciência, tecnologia e produção industrial caminhem juntas para atender as demandas do SUS — e eventualmente também de outros países da América Latina e África.

“A ciência e a saúde são motores do desenvolvimento nacional”, disse a ministra Luciana Santos. “Estamos falando de soberania, mas também de oportunidade: de gerar empregos qualificados, atrair investimentos e colocar o Brasil no mapa da inovação global”.

A iniciativa brasileira, que deve começar a operar nos próximos meses, representa um marco para a diplomacia da saúde e para a autonomia tecnológica do país. E diante de um cenário mundial em que a disputa por conhecimento científico se intensifica, projetos como esse reforçam a capacidade do Brasil de propor soluções — não só para si, mas para o mundo.

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