O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, encerrou uma agenda de quatro dias na China com uma mensagem direta: a cooperação Brasil–China na saúde pode acelerar a modernização do atendimento no país. Em entrevista à Xinhua, ele afirmou que desafios vistos em 2012 hoje se tornaram políticas consolidadas na China e que essa experiência ajuda a orientar projetos brasileiros, como hospitais tecnológicos, telemedicina e gestão digital do cuidado. O encontro também reafirmou um memorando de entendimento e um plano de ação para ampliar a colaboração entre os dois sistemas, inclusive em instâncias multilaterais como a OMS.
A comitiva visitou unidades referência em inovação — o Hospital Tiantan, ligado à Universidade Médica da Capital, e o Hospital Zhongshan, da Universidade Fudan — ambos classificados como “hospitais inteligentes”. Padilha testou um equipamento de ressonância magnética de 0,5 tesla ainda em desenvolvimento e destacou o modelo de inovação que integra indústria, universidades e centros de pesquisa, com potencial para desafogar filas e qualificar diagnósticos no SUS. Segundo o ministro, a meta é firmar acordos bilaterais para adaptar soluções chinesas às necessidades brasileiras, com ênfase em atendimento ambulatorial eficiente e acompanhamento pós-alta apoiado por tecnologia.
Outro eixo é a medicina tradicional chinesa (MTC). O governo brasileiro avalia formar profissionais, criar protocolos de integração e mapear oportunidades para incorporar práticas validadas ao sistema público, preservando critérios de segurança e evidência clínica. No Hospital Guang’anmen, da Academia Chinesa de MTC, a delegação observou fluxos de atendimento e equipamentos desenvolvidos para especialidades tradicionais, reforçando a ideia de que inovação e tradição podem caminhar juntas quando há governança e padronização.
Na agenda industrial, Padilha citou a produção local de uma nova geração de insulina de longa duração (insulina glargina), viabilizada com tecnologia chinesa. A expectativa é reduzir vulnerabilidade cambial e dar estabilidade ao abastecimento — tema sensível para redes públicas e privadas. Para escalar essa cooperação, o ministro defendeu um diálogo mais estreito entre a Anvisa e a NMPA (agência reguladora chinesa), de modo a encurtar prazos de registro, harmonizar exigências técnicas e ampliar a oferta de medicamentos estratégicos no Brasil.
O governo também lançou, em setembro, o Instituto de Tecnologia Médica Inteligente (ITMI-Brasil), concebido para ser o primeiro hospital inteligente do país. A experiência chinesa em IA aplicada à gestão, triagem digital e monitoramento remoto é vista como referência para o projeto. Na prática, o pacote Brasil–China combina três vetores: infraestrutura hospitalar inteligente, integração de práticas da MTC sob critérios técnicos e inovação produtiva em fármacos críticos. Se avançar, o resultado esperado é atendimento mais ágil, redução de filas especializadas e custo menor por paciente — ganhos que dependem de contratos, cronogramas e metas verificáveis a serem acompanhados nos próximos meses.