Brasil e China deram mais um passo importante na consolidação de uma agenda científica conjunta ao reforçarem, no âmbito do BRICS, a colaboração em áreas estratégicas como oceanografia, estudos antárticos e ciência polar. A iniciativa, formalizada durante encontro técnico promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), integra os esforços dos cinco países do bloco para enfrentar desafios ambientais globais com soluções baseadas na cooperação científica internacional.
Durante o evento, realizado virtualmente no último dia 27, representantes de Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul apresentaram avanços nos programas de pesquisa marinha e polar, com destaque para o intercâmbio de dados climáticos, uso de tecnologias embarcadas e planejamento conjunto de expedições científicas.
A delegação chinesa reforçou o interesse em aprofundar o compartilhamento de infraestrutura e conhecimento técnico com o Brasil, especialmente no monitoramento de correntes oceânicas, alterações climáticas e biodiversidade marinha. A China já opera um dos programas polares mais avançados do mundo, com bases na Antártica e no Ártico, além de navios de pesquisa de última geração — ativos que podem ser integrados a missões conjuntas com o Brasil.
Brasil e China: uma aliança estratégica na ciência do oceano
O Brasil, por sua vez, tem ampliado sua presença na Antártica por meio do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), que conta com a Estação Comandante Ferraz, e investido em tecnologias de monitoramento do Atlântico Sul. A parceria com a China permite ao país sul-americano acesso a dados, modelos e capacidades logísticas que fortalecem sua atuação nas pesquisas de clima, mudanças oceânicas e proteção de ecossistemas sensíveis.
O ministro brasileiro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Paulo Alvim, destacou que a cooperação com os países do BRICS — especialmente a China — é fundamental para desenvolver ciência orientada a resultados, com foco em sustentabilidade, segurança alimentar, mudanças climáticas e uso responsável dos oceanos.
Ciência como instrumento diplomático
No contexto das relações Brasil-China, a agenda científica tem se consolidado como uma vertente sólida da diplomacia bilateral. A cooperação vai além de intercâmbios acadêmicos, envolvendo iniciativas como laboratórios conjuntos, compartilhamento de satélites de observação (como o CBERS) e projetos de inovação tecnológica aplicada ao oceano, à agricultura e à saúde.
Ao mesmo tempo, a integração entre os centros de pesquisa dos países do BRICS tem permitido que potências emergentes apresentem soluções próprias para os desafios climáticos globais, rompendo com a dependência de modelos científicos exclusivamente vindos do Norte Global.
Projeções futuras
Entre as propostas discutidas estão o desenvolvimento de uma plataforma comum de dados oceanográficos, a realização de workshops bilaterais Brasil-China com foco em ciência polar e a criação de bolsas de intercâmbio para jovens pesquisadores dos dois países.
A nova fase de colaboração reafirma o compromisso de Brasil e China com a ciência como ferramenta de desenvolvimento soberano, integração entre países do sul global e defesa do meio ambiente. Para os dois países, entender os oceanos e os polos não é apenas uma questão científica, mas uma prioridade estratégica diante das transformações do planeta.