O discurso editado foi publicado por Bolsonaro em uma rede social na manhã de hoje, um dia depois de ele participar do exercício da Marinha que causou polêmica na última semana por causa de um desfile de tanques e blindados pelas ruas de Brasília.
Na ocasião, o aparato militar passou pela praça dos Três Poderes para entregar o convite ao presidente, o que foi visto por parlamentares como uma tentativa de intimidação. No mesmo dia, foi votada no plenário da Câmara a PEC do voto impresso, defendida por Bolsonaro, mas rejeitada pelos deputados.
“Não existe um compromisso maior entre nós do que servir a pátria, busca normalidade, tranquilidade e ponderação. Jamais seremos os motivadores de qualquer ruptura ou de medida que traga intranquilidade ao povo brasileiro”, disse o presidente.
Bolsonaro frequentemente tenta sinalizar em discursos que conta com o apoio incondicional das Forças Armadas, usando expressões como “meu Exército”. Oposicionistas enxergam na postura do presidente da República um flerte com a possibilidade de ruptura institucional e cobram dos chefes militares um maior distanciamento.
Desta vez, o chefe do Executivo disse que as Forças Armadas são de “todos nós” e que qualquer movimento visa a a defesa da pátria. “Esse preparo dos senhores nos orgulha. As Forças Armadas são de todos nós; elas garantem, dão suporte aos Três Poderes. Qualquer movimento nosso visa única e exclusivamente a defesa da pátria”, disse.
O discurso de Bolsonaro foi feito a dezenas de militares, entre eles os chefes das Marinha, Aeronáutica e Exército. A demonstração militar foi transmitida ao vivo ontem pelas redes sociais do Governo e pela TV Brasil, mas este momento só foi divulgado depois de edição, na manhã de hoje.
Em outro trecho do vídeo, Bolsonaro diz que o Brasil precisa de paz, tranquilidade e harmonia e que “todos, sem exceção, respeitem a Constituição”.
As declarações ocorrem em uma outra semana de tensão em Brasília. No último sábado, Bolsonaro disse que pediria ao presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que abrisse um processo contra os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal). Em mensagem publicada ontem, Pacheco disse que o Congresso não permitirá retrocessos.
Operação passava “despercebida”
No discurso, Bolsonaro ainda disse que a Operação Formosa, realizada anualmente desde 1988, passava despercebida. Neste ano, além da polêmica com a entrega de convite, a demonstração realizada ontem contou com a presença de ministros, deputados e teve transmissão de mais de uma hora ao vivo, com direito a trilha sonora de filmes de ação e narração de cada manobra realizada.
O treinamento contou com cerca de 2.500 militares das Forças Armadas, que simularam situações operativas. Foi a primeira vez que o exercício da Marinha contou também com a participação do Exército e da Aeronáutica.
“O que me traz traz, por vezes, algumas horas de sono tranquilo, é saber que em qualquer lugar do Brasil tem um militar atento ao que está acontecendo e pronto para trabalhar pela nossa democracia, pela nossa liberdade, pelas garantias dos poderes”, disse o presidente, que durante a demonstração chegou a disparar tiros de artilharia ao lado do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.
Ao final, Bolsonaro ainda disse que as Forças Armadas foram requisitadas para um trabalho humanitário no Haiti, que foi atingido por um forte terremoto neste fim de semana, e que trabalha para que o Brasil seja uma “potência democrática”.
“Como tenho dito e repetido, temos hoje um presidente da República que acredita em Deus, que respeita os seus militares, que defende a família e deve lealdade ao seu povo. Creio que, com isso, temos tudo para progredir, para crescer, para dar cada vez mais demonstração ao mundo de como um país é, realmente, acima de tudo, uma potência democrática”, disse.