Bloomberg destaca que implantação da montadora chinesa BYD no Brasil ‘simboliza alianças econômicas em transformação’

Agência de notícias econômicas disse em reportagem que os Estados Unidos estão ameaçados com uma "humilhante perda de influência global", com o avanço da China

Encontro entre representantes do governo Lula e do grupo automotivo chinês BYD (Foto: Reprodução / Ricardo Stuckert)

A agência de notícias Bloomberg publicou nesta quarta-feira (8) reportagem sobre a reativação da antiga fábrica Ford, na Bahia, pela montadora chinesa BYD, maior fabricante de carros elétricos da China. Quando a fábrica for reaberta ainda este ano, ela se tornará a operação de veículos elétricos mais extensa da BYD fora da Ásia.

A Bloomberg destaca que a ressurreição da antiga fábrica da Ford representa as grandes ambições industriais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e enfatiza que a mudança demostra a perda de poder geopolítico dos Estados Unidos. “Os Estados Unidos há muito desempenham esse papel em mercados emergentes, como o Brasil, e agora estão ameaçados com uma humilhante perda de influência global. A China está fazendo investimentos relacionados a veículos elétricos no Chile, Argentina e Brasil; construindo fundições e fábricas de baterias na Indonésia; e minerando lítio na África”, diz o texto.

As relações com a China atingiram o ponto mais baixo durante o antecessor de Lula, o nacionalista de direita Jair Bolsonaro. Em março, pouco mais de dois meses após assumir o cargo, Lula visitou o presidente chinês Xi Jinping, buscando uma aproximação. Enquanto estava lá, ele pessoalmente fez lobby com o CEO da BYD, Wang Chuan-Fu, para reabrir a antiga fábrica da Ford. Lula considera Pequim capaz de ajudar de maneiras que Washington não pode ou não quer. O Congresso dos EUA pode ser hostil à ajuda estrangeira direta, portanto, o governo só pode incentivar empresas a investir por meio de pressões verbais, políticas fiscais e comerciais. A China mantém um controle rigoroso sobre as empresas privadas, exercendo controle para alinhar mais facilmente suas decisões com as prioridades nacionais.

Conforme a reportagem da agência estadunidense, Xi prometeu ajuda da China, assinando US$ 10 bilhões em compromissos de investimento após se encontrar com Lula. Oficiais americanos tinham dúvidas sobre a atitude acrítica de Lula em relação a Xi. Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, foi enviada ao Brasil em maio para reparar os laços desgastados. No mês seguinte, Lula se encontrou com Stella Li, vice-presidente global da BYD. “Ficamos muito impressionados com Lula”, disse Li depois. “Ele tem uma visão: ele realmente quer que a BYD traga inovação, tecnologia avançada aqui, para construir manufatura”. O Brasil “é o país em que confiamos, e este é o governo em que confiamos”.

O Brasil tem muito a recuperar. Atualmente, a indústria representa cerca de um quarto de seu produto interno bruto, menos da metade do auge em 1985. Lytha Spíndola, chefe de desenvolvimento industrial e economia da Confederação Nacional da Indústria do Brasil, culpa um sistema tributário caótico e pouco amigável e infraestrutura deficiente e cara. Uallace Moreira Lima, secretário de desenvolvimento industrial e inovação do Brasil, afirma que o país não se preparou para o futuro: “A Europa e os Estados Unidos desindustrializaram, mas dominam essas cadeias industriais complexas, o que não é o caso do Brasil”.