Estudo inédito revela impactos sociais do comércio Brasil-China em emprego, renda, gênero e raça

Pesquisa do CEBC e do MDIC aponta oportunidades e desafios para tornar a relação bilateral mais inclusiva

(Foto: Reprodução / Getty Images)

O Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), em parceria com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), lançou nesta terça-feira (10) um estudo inédito sobre os impactos sociais do comércio bilateral. Intitulada “Análise Socioeconômica do Comércio Brasil-China: Emprego, renda, gênero e raça nas empresas que comercializam com a China”, a pesquisa mostra como a maior relação comercial do Brasil influencia o mercado de trabalho e evidencia desafios ligados a desigualdades persistentes.

De acordo com os dados, em 2024 a China respondeu por 28% das exportações brasileiras e 24% das importações, acumulando um superávit de US$ 276 bilhões na última década, mais da metade do saldo positivo do Brasil no período. Apesar da relevância, a pauta exportadora segue concentrada em commodities, enquanto as importações chinesas incluem ampla diversidade de produtos industriais.

A pesquisa mostra ainda que cerca de 3 mil empresas brasileiras exportaram para a China em 2024, contra mais de 40 mil que importaram do país asiático, o que reflete a assimetria da relação. Esse comércio impactou diretamente 7,4 milhões de empregos no Brasil em 2022, sendo 5,2 milhões em importadoras e 2,2 milhões em exportadoras. Os trabalhadores das exportadoras receberam remuneração média de R$ 4.916,73, acima da registrada nas importadoras (R$ 4.430,44), mas o crescimento salarial ao longo do tempo foi considerado lento.

O estudo também evidencia desigualdades de gênero e raça. As mulheres representavam apenas 29% dos empregados em exportadoras e 34,4% em importadoras em 2022, recebendo salários cerca de 30% inferiores aos dos homens. Já os trabalhadores negros correspondiam a 44% dos empregados, mas com salários 40% menores que os dos colegas brancos, ainda que os dados indiquem avanços recentes na redução dessas disparidades.

No lançamento, a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, ressaltou a importância da pesquisa para a formulação de políticas públicas que ampliem os benefícios da relação bilateral: “A ideia é identificar oportunidades para que mais empresas, regiões e trabalhadores possam se inserir nesse mercado em expansão.”

O painel de debates reuniu especialistas que defenderam maior intencionalidade na inclusão social e diversificação da pauta comercial. Para Ana Lúcia Melo, do Instituto Ethos, o setor privado deve estabelecer metas claras para reduzir desigualdades. Já Fernando Ribeiro, do Ipea, destacou a necessidade de avançar em áreas como comércio de serviços e e-commerce, intensivas em mão de obra e com alto potencial de crescimento.

Segundo Camila Amigo, uma das autoras, o estudo deve ser entendido como um ponto de partida para um monitoramento contínuo dos efeitos sociais da relação bilateral: “É essencial ampliar o diálogo entre governo, empresas, academia e sociedade civil para transformar esses dados em políticas e estratégias concretas.”

O levantamento reforça que a relação Brasil-China, além de gerar ganhos econômicos expressivos, tem potencial para impulsionar maior inclusão social. Para que isso se concretize, será necessário adotar políticas públicas e estratégias empresariais que enfrentem as desigualdades de gênero e raça e promovam um comércio mais equilibrado e sustentável.

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