China reforça compras de soja brasileira e deixa EUA em segundo plano

Comércio aquecido favorece produtores do Brasil em meio a tensões tarifárias e busca chinesa por segurança no abastecimento

(Foto: Reprodução / Cláudio Neves)

O Brasil está ocupando com folga o espaço deixado pelos Estados Unidos no abastecimento de soja para a China, em um momento de tensão comercial e tarifas elevadas que tornam o produto americano menos competitivo. Segundo dados do mercado, importadores chineses já garantiram para setembro cerca de 8 milhões de toneladas da oleaginosa, todas oriundas da América do Sul. Para outubro, metade da demanda prevista — aproximadamente 4 milhões de toneladas — também será atendida por fornecedores brasileiros e de outros países sul-americanos.

A movimentação reforça uma tendência observada desde a guerra comercial iniciada no primeiro mandato de Donald Trump: a redução gradual da dependência chinesa de produtos agrícolas dos EUA. No ano passado, de um total de 105 milhões de toneladas importadas, apenas 22,13 milhões vieram dos americanos, gerando US$ 12 bilhões em negócios.

Apesar de, sem tarifas, a soja dos EUA para embarque em outubro custar cerca de US$ 40 por tonelada a menos que a brasileira, a tarifa de 23% aplicada por Pequim ao produto americano neutraliza essa vantagem. As sobretaxas, aliadas à busca chinesa por diversificar fornecedores e garantir estoques, abriram espaço para o Brasil consolidar seu papel de protagonista.

Especialistas ouvidos pela agência Reuters apontam que as compras volumosas no terceiro trimestre indicam uma estratégia de precaução diante de possíveis riscos de fornecimento no fim do ano. O analista Wang Wenshen, da Sublime China Information, destaca que o setor está antecipando importações para manter a segurança alimentar e industrial.

O cenário também reflete a dificuldade de um acordo entre Washington e Pequim. No último domingo (10), Trump chegou a exigir que a China quadruplicasse as compras de soja americana durante o período de trégua tarifária — algo considerado inviável por analistas. Embora os dois países tenham prorrogado essa trégua por mais 90 dias, não há sinais de que isso vá reverter o fluxo atual de comércio.

Para o Brasil, o momento é de oportunidade. Além de ampliar a fatia no mercado chinês, o país fortalece a parceria estratégica construída ao longo de décadas no agronegócio, marcada por logística ajustada, acordos sanitários consolidados e capacidade de entrega em larga escala. Caso um entendimento entre EUA e China seja alcançado nos próximos meses, a concorrência pode aumentar, mas o avanço brasileiro já consolidado neste ciclo tende a manter a posição de destaque no maior mercado importador de soja do mundo.

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