O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a colocar no centro do debate internacional a proposta de criação de uma moeda própria para o Brics, defendendo que o bloco teste o mecanismo como forma de reduzir a dependência do dólar nas transações comerciais. A declaração foi feita na terça-feira (12), em entrevista à Band News, e reforça a visão de que os países do Sul Global precisam alinhar estratégias e interesses para aumentar seu poder de negociação no cenário mundial.
“É preciso testá-la. Se fracassar, eu estava errado. Mas alguém precisa me convencer disso”, afirmou Lula, ao lembrar que o Brics reúne 11 países — entre eles Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — que representam metade da população mundial e um terço do PIB global. Para o presidente, a criação de uma moeda comum para o comércio interno do bloco pode ser um passo estratégico para fortalecer o multilateralismo e equilibrar relações comerciais historicamente dominadas pelo dólar.
A proposta ganha ainda mais relevância diante da recente ofensiva tarifária dos Estados Unidos, que impôs sobretaxas a produtos brasileiros. Lula afirmou não saber se a medida está diretamente ligada à participação do Brasil no Brics, mas ressaltou que a concentração de poder monetário nas mãos de um único país cria vulnerabilidades.
Já nesta quarta-feira (13), durante a apresentação do plano de contingência contra o tarifaço de Donald Trump, o presidente anunciou que o Brics realizará uma videoconferência para discutir alternativas comerciais e ampliar parcerias internacionais. Segundo ele, já há conversas avançadas com Índia, China e Rússia, e outros países, como África do Sul, França e Alemanha, também serão acionados.
“Vamos fazer uma teleconferência, que está sendo articulada, para discutir o que podemos fazer para melhorar a situação entre todos os países afetados”, disse Lula, destacando que a busca por novos parceiros será prioridade para mitigar os efeitos das tarifas.
A agenda do presidente inclui a abertura da Assembleia Geral da ONU em 23 de setembro, onde pretende defender o multilateralismo, a soberania brasileira e a pauta ambiental. Lula também reiterou críticas ao histórico dos EUA em relação a acordos climáticos, como a saída do Acordo de Paris e o descumprimento do Protocolo de Quioto, e revelou ter convidado Donald Trump para participar da COP30, que será realizada em novembro, em Belém (PA).
Com as negociações em andamento, o Brasil se posiciona para fortalecer laços com seus parceiros do Brics e outros mercados estratégicos, apostando em mecanismos próprios — como uma moeda comum e acordos bilaterais — para reduzir a exposição a políticas unilaterais e ampliar sua autonomia no comércio internacional.