No mesmo dia em que os Estados Unidos confirmaram uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro, a China anunciou a habilitação de 183 novas empresas do Brasil para exportar o produto ao seu mercado. A medida, válida por cinco anos, entrou em vigor no último dia 30 de julho e representa uma importante janela de oportunidade para o agronegócio nacional, especialmente diante do atual cenário de tensões comerciais com Washington.
Os EUA continuam sendo o principal destino do café brasileiro, com 3,3 milhões de sacas de 60 kg exportadas nos seis primeiros meses de 2025 — cerca de 23% do total. No entanto, o novo tarifaço, que excluiu o café da lista de quase 700 exceções, pode obrigar os produtores a buscar alternativas de escoamento, e a China desponta como candidata natural.
Embora o mercado chinês ainda seja o décimo maior comprador de café do Brasil — com 529 mil sacas importadas no primeiro semestre — o potencial de crescimento é expressivo. Em 2024, o consumo per capita no país era de apenas 16 xícaras por ano, mas esse número saltou para 22 em 2025 e a expectativa é que alcance 30 até o fim do ano.
Boa parte desse avanço se deve ao crescimento acelerado de cadeias locais como a Luckin Coffee, que já supera a Starbucks em número de lojas na China. A rede chinesa, fundada em 2017, conta hoje com mais de 20 mil unidades espalhadas pelo país — todas abastecidas com café brasileiro. Em parceria com a ApexBrasil, a Luckin firmou dois grandes acordos nos últimos anos, prometendo comprar 240 mil toneladas de café do Brasil até 2029. Em sinal da importância da parceria, a empresa chegou a inaugurar o “Luckin Brasil”, um museu dedicado à cooperação sino-brasileira no setor cafeeiro desde 1974.
O contexto favorece um reposicionamento estratégico do Brasil. Segundo pesquisadores do Cepea/Esalq, o novo momento exige agilidade logística e inteligência comercial por parte dos exportadores, que terão que adaptar suas rotas e contratos para evitar perdas. Ao mesmo tempo, o Cecafé — Conselho dos Exportadores de Café do Brasil — segue em diálogo com autoridades americanas na tentativa de incluir o café na lista de isenções tarifárias dos EUA.
A boa notícia não se limita ao setor cafeeiro. A China também habilitou recentemente 30 empresas brasileiras para exportar gergelim e 46 para enviar farinhas de aves e suínos, ampliando o leque de oportunidades no comércio bilateral. Em comunicado, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, afirmou que o país “valoriza a parceria com o Brasil” e está pronto para cooperar dentro do BRICS para fortalecer o sistema multilateral de comércio.
Em meio a um cenário global cada vez mais polarizado, a aproximação com a China e a expansão de mercados alternativos podem representar não apenas uma resposta tática às pressões externas, mas também uma oportunidade de reequilíbrio e diversificação da pauta exportadora brasileira.