A disputa geopolítica entre China e Estados Unidos ganhou mais um capítulo nesta sexta-feira (2), após a Embaixada da China no México reagir de forma veemente às declarações de Larry Rubin, presidente da American Society of Mexico. Rubin havia sugerido que o governo mexicano deveria evitar aprofundar laços com os países do BRICS — grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — especialmente com China e Rússia.
Em nota oficial divulgada pela missão diplomática em Cidade do México, o governo chinês acusou Rubin de promover uma “mentalidade hegemônica” e de tentar “manchar a cooperação entre os países do Sul Global”. Para os chineses, essa postura revela a arrogância de certos setores dos Estados Unidos e representa uma tentativa de interferência nas decisões soberanas de nações latino-americanas.
“O senhor Rubin se apresenta como um empresário, mas age como um porta-voz político, ditando ao México com quem pode ou não manter relações”, afirmou a embaixada. “É uma arrogância vergonhosa, que ignora o direito dos países de escolher seus próprios parceiros.”
A resposta chinesa também destaca as contradições da postura americana: enquanto critica a aproximação entre países latino-americanos e o BRICS, os próprios Estados Unidos impõem sanções tarifárias, migratórias e de segurança à região. “Quem, então, está realmente interferindo e semeando divisão?”, questiona o comunicado.
O posicionamento firme da China não apenas defende a soberania do México, mas sinaliza a ampliação do apoio chinês à América Latina como um todo — inclusive ao Brasil, que atualmente exerce a presidência rotativa do BRICS. A narrativa chinesa busca afastar a ideia de rivalidade ideológica e enfatiza que a cooperação com o Sul Global “se baseia em apoio mútuo genuíno e progresso compartilhado, e não em jogos de soma zero”.
O recado final da nota é direto: “Se você realmente se importa com a América Latina, remova suas lentes distorcidas, respeite as escolhas soberanas dos países e pare de fabricar a chamada ‘ameaça chinesa’. Nenhuma retórica enganosa será capaz de enganar o mundo”.
O episódio escancara o cenário de crescente disputa de influência na América Latina, onde países como México e Brasil emergem como peças-chave. Com a expansão do BRICS em curso e o fortalecimento das relações sino-latino-americanas, a China reafirma seu papel de parceiro estratégico da região — não apenas em termos comerciais, mas também como contraponto político à hegemonia tradicional dos EUA.
Para o Brasil, essa disputa pode representar uma oportunidade: fortalecer sua liderança no BRICS e atuar como ponte entre diferentes blocos de poder, equilibrando interesses globais com sua vocação histórica de diálogo e integração regional.