Às vésperas do tarifaço de Trump, Lula lança programa para impulsionar exportações brasileiras

Com apoio à internacionalização de pequenas e médias empresas, governo mira novos mercados e reforça integração com parceiros como a China

(Foto: Reprodução / iStock / bfk92)

Faltando poucos dias para a entrada em vigor das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta segunda-feira (29) o lançamento do Programa Nacional de Cultura Exportadora, uma estratégia para ampliar a base de empresas brasileiras que atuam no comércio exterior e reduzir a dependência de mercados tradicionais.

O anúncio veio em meio à crescente tensão diplomática com o governo norte-americano. O chamado “tarifaço de Trump” — que deve passar a valer já nesta sexta-feira (1º de agosto) — afeta diretamente setores estratégicos da economia brasileira, como agronegócio, siderurgia e manufaturados. A resposta do governo foi política e prática: estimular a internacionalização de pequenas e médias empresas, ampliando o leque de países com os quais o Brasil se relaciona comercialmente.

Segundo Lula, o programa tem o objetivo de criar uma “cultura exportadora” mais inclusiva, voltada não apenas para as grandes empresas exportadoras, mas também para pequenos negócios, cooperativas, produtores locais e indústrias regionais. A expectativa é que, com apoio técnico, capacitação e linhas de financiamento, mais empresas brasileiras consigam acessar mercados internacionais de forma estruturada e competitiva.

“Temos que aproveitar as oportunidades, abrir novos caminhos e não depender de ninguém. Se querem nos pressionar, vamos responder com crescimento, inovação e diplomacia”, declarou o presidente durante a cerimônia de lançamento, ao lado do vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin.

China na rota das novas oportunidades

Nesse contexto, a China aparece como um parceiro cada vez mais estratégico. Maior destino das exportações brasileiras há 15 anos, o país asiático já absorve grande parte da produção nacional de soja, carnes, minério de ferro e celulose. Mas o potencial vai além: há crescente interesse chinês por alimentos processados, cosméticos naturais, tecnologia verde, produtos farmacêuticos e inovação agrícola — áreas em que o Brasil tem avançado com força.

Com o novo programa, abre-se espaço para que pequenas empresas brasileiras entrem em cadeias de valor internacionais por meio de feiras, missões comerciais e plataformas digitais, muitas delas já operando com forte presença na China. O plano é coordenado por diversos órgãos, como ApexBrasil, Sebrae, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e Banco do Brasil.

Além disso, a iniciativa prevê incentivos à exportação com sustentabilidade, promovendo produtos com certificação ambiental, origem controlada e valor agregado — características que dialogam com a demanda crescente de consumidores chineses por produtos éticos e saudáveis.

Resposta à pressão dos EUA

O movimento também representa uma resposta direta à escalada protecionista norte-americana. A imposição de tarifas por Donald Trump tem sido interpretada não apenas como uma disputa comercial, mas como um gesto de retaliação política, sobretudo após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e as críticas do atual governo brasileiro ao comportamento do republicano.

Lula classificou as ameaças tarifárias como “inaceitáveis” e disse que o Brasil não aceitará ser tratado como subalterno. “Queremos relações respeitosas com todos os países, inclusive os Estados Unidos. Mas ninguém vai dobrar a soberania brasileira na base da chantagem”, afirmou o presidente.

Olhar para frente

Com as tensões com os EUA em alta, o Brasil aposta numa estratégia de diversificação de parceiros e reconexão com o Sul Global. Além da China, os países do BRICS, a América Latina, a África e até o Oriente Médio estão na mira da diplomacia econômica brasileira.

A mensagem que o governo tenta transmitir é clara: o futuro das exportações brasileiras não está limitado a Washington. Em um mundo multipolar, o Brasil busca espaço com autonomia, inteligência e pragmatismo — e está disposto a transformar o desafio em oportunidade.

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