Conflito no Oriente Médio pressiona preço de fertilizantes e acende alerta no agronegócio brasileiro

Especialistas apontam impactos logísticos e alta de custos; China surge como alternativa estratégica de abastecimento

(Foto: Reprodução)

O agronegócio brasileiro está em alerta com a escalada do conflito entre Irã e Israel, que ameaça diretamente a cadeia de fornecimento global de fertilizantes. Com a proximidade da safra 2025/2026 — cuja semeadura começa em setembro no Centro-Oeste — produtores rurais enfrentam aumentos nos preços de adubos e incertezas logísticas que podem afetar a produtividade e os custos do setor.

Segundo relatório da consultoria StoneX, divulgado nesta semana, a produção de ureia — um dos principais fertilizantes nitrogenados usados no Brasil — está paralisada tanto no Irã quanto no Egito. No caso iraniano, o conflito regional elevou os riscos operacionais nas plantas de ureia e amônia. Já o Egito sofre com a redução do fornecimento de gás natural vindo de Israel, essencial para a produção desses insumos.

O Brasil importa cerca de 85% de seus fertilizantes, e o Irã responde por 17% a 20% da demanda brasileira por ureia. Isso torna o país especialmente vulnerável a qualquer desarranjo geopolítico que afete os grandes produtores mundiais.

De acordo com Renato Françoso, especialista da StoneX, os agricultores brasileiros já compraram cerca de 61% dos fertilizantes previstos para o segundo semestre, mas uma parte significativa ainda não foi entregue — o que amplia a pressão sobre preços e prazos.

A relação de troca entre soja e fertilizantes, tradicional indicador de viabilidade econômica no campo, vem se deteriorando. Em março, um produtor precisava vender 28 sacas de soja para adquirir uma tonelada de MAP (fertilizante à base de nitrogênio e fósforo). Agora, são necessárias 31 sacas. A conta não fecha, especialmente em um cenário de queda nos preços das commodities agrícolas.

Um estudo da Mosaic aponta que o poder de compra de fertilizantes pelos agricultores brasileiros caiu ao menor nível dos últimos 30 meses. “As perspectivas para a ureia são incertas, a logística está conturbada e ainda temos um programa de importação robusto pela frente”, avaliou Jeferson Souza, analista da Agrinvest.

Para Francisco Vieira, da Agroconsult, ainda é cedo para prever redução na área plantada, mas os custos mais altos já preocupam. Ele ressalta que há alternativas fora do Oriente Médio, como a China e o Marrocos — países que, segundo ele, podem aliviar parte da pressão. A China, aliás, tem ampliado sua capacidade de produção e exportação de fertilizantes nos últimos anos, o que a torna uma peça-chave para estabilizar o mercado em meio à crise.

“Não há risco de escassez, mas sim de preços elevados”, explicou Vieira. “A principal preocupação é econômica, não de fornecimento.”

Na frente logística, o cenário também se complica. O Estreito de Ormuz, rota estratégica para o comércio de petróleo e fertilizantes, está sob ameaça de bloqueio pelo Irã. Segundo Evandro Turatto, diretor da Next Shipping, os fretes na região já dobraram. “O frete de contêineres aumentou em média 30% nos últimos dez dias”, afirmou.

Turatto alerta que, se o conflito escalar, o mundo pode enfrentar uma crise de suprimentos sem precedentes — mais grave até do que a ocorrida durante a pandemia.

Para o Brasil, manter relações comerciais diversificadas e reforçar parcerias com fornecedores estratégicos, como a China, será fundamental para reduzir a dependência de regiões instáveis. O tema deve ganhar espaço nas próximas agendas bilaterais e nas discussões do BRICS, bloco do qual tanto Brasil quanto China e Irã fazem parte.

Enquanto a paz não chega ao Oriente Médio, o campo brasileiro já sente os primeiros impactos de uma guerra travada longe das lavouras — mas cada vez mais presente nos custos de produção e no planejamento agrícola do país.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui