Primeira mobilização da Rússia após o fim da Segunda Guerra é anunciada; MD diz o país ‘já está lutando contra OTAN’

Mobilização russa de 300 mil soldados ocorre durante 77ª Assembleia Geral da ONU. Macron e Scholz acusam Putin de promover 'novo imperialismo', mas não comentam sobre expansão da OTAN para o Leste da Europa.

Na manhã desta quarta (horário local), o presidente russo Vladimir Putin anunciou a primeira mobilização de tropas do país desde o final da Segunda Guerra Mundial, conhecida como “Grande Guerra Patriótica” no gigante eurasiático.

Em seu discurso de 14 minutos transmitido na rede de televisão local, Putin acusou a “chantagem nuclear” ocidental e afirmou que o ocidente fala abertamente sobre seu desejo de destruir a Rússia, dividindo-a em diversas regiões em guerra umas contra as outras.

Segundo Putin, altos mandatários dos principais países da Otan fazem declarações públicas admitindo a possibilidade de usar armas de destruição em massa contra a Rússia, e lembrou que o arsenal russo “também possui vários meios de destruição, e em alguns componentes mais modernos que os dos países da Otan.”

A mobilização de tropas abrangerá cerca de 1% da capacidade de reserva da Rússia, o que engloba cerca de 300 mil soldado. Putin diz “não serão vistos estudantes no campo de batalha”, mas prioritariamente reservistas que possuam histórico de combate.

O ministro da defesa Russo, Sergei Shoigu, explicou detalhes à Sputnik sobre a mobilização. O general informou que o exército ucraniano já perdeu pouco mais de metade do seu efetivo. Na etapa inicial da operação, os ucranianos contavam com 201 mil soldados. Até o momento que a entrevista foi concedida, a inteligência russa contabilizava mais de 100 mil baixas entre as forças da Ucrânia, entre 61.270 mortos e 49.368 feridos. Do lado russo, Shoigu relatou 5.937 baixas durante a operação no Donbass.

O general do exército da Federação Russa destacou que a Operação Militar Especial combate não só a Ucrânia, mas também a OTAN. Para Shoigu, uma vez que os resquícios dos equipamentos soviéticos restantes na Ucrânia acabaram, as armas usadas pela Ucrânia são todas da OTAN.

“Quando falamos disso, não queremos dizer só as armas que são entregues em enormes quantidades. Contra isso, encontramos meios de lutar. Falo também dos sistemas de comunicação, processamento de informações, sistemas de inteligência inclusive via satélite. Ou seja, toda a estrutura de satélites da OTAN, que são mais de 70 satélites militares, e mais de 200 satélites civis que, pelos nossos cálculos, estão lutando contra nós. Eles trabalham para descobrir a localização de nossas unidades militares.”

Shoigu também sublinhou o uso de armas grande precisão, cuja quantidade seria escondida da sociedade, “mas de nós não”. O general denunciou o uso desse armamento contra alvos civis no Donbass, como hospitais e locais de concentração de pessoas.

Zelensky irá falar à Assembleia Geral da ONU

O anúncio da nova mobilização foi feito poucas horas depois do primeiro dia de encontro da 77ª Assembleia Geral da ONU, que contou com a participação de Chefes-de-Estado de países com grande importância na OTAN, como a Alemanha e a França.

Em seu discurso inflamado contra a Rússia, o presidente francês Emmanuel Macron tentou ensinar os países em desenvolvimento, que outrora estiveram sob julgo europeu — e francês — sobre qual seria o real sentido do Movimento dos Países Não Alinhados. Para o presidente francês, aqueles que acham que hoje são não alinhados estão “comento um erro histórico”, uma vez que o movimento lutava “pela paz, pela soberania dos estados e a integridade territorial” nas palavras do francês.

Macron acusou quem se mantém neutro de servir secretamente, e com “certa cumplicidade”, à causa do “novo imperialismo russo”, e que essa “nova ordem”, contrária à ordem atual, é incompatível com a paz. Segundo o presidente da França e também dos territórios ultramarinos da Guiana Francesa, Martinica, Guadalupe, Reunião e Mayotte, a “guerra lançada pela Rússia” estaria “minando a única ordem mundial possível”.

O presidente francês falou ainda que “imperialismo contemporâneo não é ocidental, não é europeu”, que toma a forma de “invasão territorial” e faz uso do preço da energia, insegurança alimentar, acesso à informação e movimento populacional como armas para divisão e destruição.

Antes da invasão da OTAN, dos bombardeios franceses e norte-americanos e da divisão do território em quatro administrações em guerra em 2011, a Líbia era o país com o maior IDH do continente africano, com vasta reserva energética e de ouro. (foto: Divulgação/Médicos Sem Fronteiras)

Macron disse ainda que deve haver uma coesão global por temas centrais e “universais”, como mudanças climáticas e combate à desigualdade, e fez um apelo à unidade. Afirmou que o mundo não pode seguir a lógica de grupos separados entre norte rico e sul em desenvolvimento.

Na parte da noite, foi a vez do primeiro ministro alemão Olaf Scholz discursar. Seguindo a linha otanista de Macron, o chanceler do quinto maior país exportador de armas do planeta acusou o “imperialismo russo” de encarar a guerra seria “um meio comum de política”:

— Assistiremos impotentes como alguns querem nos catapultar de volta a uma ordem mundial onde a guerra é um meio comum de política, nações independentes devem se juntar a seus vizinhos mais fortes ou mestres coloniais, e a prosperidade e os direitos humanos são um privilégio para poucos afortunados?

Ao perguntar se “conseguimos juntos garantir que o mundo multipolar do século XXI continue sendo um mundo multilateral”, Scholz deixou claro que considera ainda que a ordem unipolar surgia após o fim da União Soviética, que deixou os países da OTAN livres abrir dezenas de guerra após 1991, seria na verdade uma ordem multipolar.

A expansão da OTAN para o Leste da Europa não foi tema dos países da OTAN que participaram da primeira sessão da 77ª Assembleia Geral da ONU.

Ainda hoje é esperado o discurso de Joe Biden e Volodymyr Zelensky na segunda sessão da Assembleia.

Enquanto isso na China

Apesar das palavras clamando por paz, navios de guerra dos EUA e do Canadá, ambos membros da OTAN, atravessavam o estreito de Taiwan, no Mar da China Meridional. A provocação vem após declarações de Joe Biden de que iria “defender Taiwan em caso de invasão chinesa”.

O destroier norte-americano de mísseis guiados USS Higgins e a fragata canadense HMCS Vancouver realizaram um “trânsito de rotina” pelo estreito de Taiwan:

“Os navios transitaram por um corredor no estreito que está mais além do mar territorial de qualquer Estado costeiro”, comunicou a 7ª Frota dos EUA, comunicando também que o trânsito das embarcações pelo estreito de Taiwan demonstraria o compromisso dos EUA e seus aliados por um “Indo-Pacífico livre e aberto”.

*Com informações da Sputnik

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui